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sexta-feira, 22 de abril de 2016

Escrever com angústia (e a angústia de não escrever)

Falta-me tempo, mas, como tenho dito muitas vezes nos últimos tempos, falta-me sobretudo energia.

Sei que há quem consiga escrever exausto. Gente melhor do que, de certeza. Talvez eu conseguisse também, se este cansaço fosse apenas físico, mas não é. Trago um balão na cabeça que vai crescendo e empurrando o resto para fora ao longo da semana, só fica o suficiente (cada vez menos) para que os meus alunos não se apercebam que, um dia destes, desato a chorar à toa. Podia ser agora mesmo e ainda o meu dia mal começou. Custa-me a concentrar de tal forma que tenho feito disparates atrás de disparates - perdi uma pasta importante, levei o meu filho a renovar o CC na data errada, escrevo as frases no quadro em misturadas de Inglês e PT, por exemplo - e mal me lembro da semana passada. Dei aulas, isso é óbvio. Iria jurar que fui a uma visita de estudo, mas se calhar foi na semana antes. Não escrevi, isso também sei. Acho que preenchi uns inquéritos online para a escola e... humm, sei que preparei muitas fichas para certas turmas, porque isso tem de ser, eles não têm livro. E acho que corrigi fichas e composições aos montes. Acho que foi na semana passada. Ou terá sido na anterior? 

Dormir não chega para descansar - há três ou quatro noites que tenho sonhos estranhos uns atrás dos outros e acordo sobressaltada lá pelas cinco, depois pelas seis... O fim de semana não chega para me recompor e é ao fim de semana que escrevo um pouco. Quase nada, nas últimas semanas. O maldito livro, que devia estar pronto porque ando com ele há um ano,  não avança. Não gosto de nada do que escrevo. O blogue está ao abandono. Eu, a talvez-escritora, a mulher, estou ao abandono, só existo eu, a professora. E a mãe, a espaços.

O estado de espírito ser-me-ia útil para a personagem principal do meu livro, apesar de ser homem, se a conseguisse dissecar. Se conseguisse deixar de olhar para o ecrã com a angústia de ter a cabeça vazia. Se fosse capaz de passar da mesma linha.  Se não precisasse de estar bem disposta para escrever, mesmo as tristezas. Assim, fica só a irritação profunda de, pela primeira vez na minha vida, não ser quase capaz de escrever, de, mesmo com vontade, não me concentrar.  

É uma angústia, isto. Lamentar-me assim também é, mas que se lixe. Que importa, anyway? Amanhã há mais.

(e tudo isto porque um post da Célia Loureiro no facebook me fez aperceber-me de que deixei passar um dos concertos que mais gostaria de ter ouvido, de Ludovico Einaudi... e vejam, tive de ir confirmar o nome, eu que o ouço com tremenda frequência enquanto escrevo. Fica a sua música, para me consolar.)






(e também porque 2016 está a ser um ano terrível.... ontem foi-se o Prince, um dos mais importantes ícones da minha juventude, com apenas 57 anos. Afectou-me mais do que devia. Deixo uma das minhas canções favoritas de sempre, porque parece que hoje nada me consola)





3 comentários:

Maphie disse...

Decerto não servirá de consolo, mas a expressão da angustia já valeu de algo: fiquei completamente rendida às primeiras notas de Einaudi. Escutei à pouco tempo o nome, a propósito do seu concerto, ignorava por completo o talento. Pena, mas não mais! Obrigada por esta partilha. E que se sigam dias melhores :)

Cristina Torrão disse...

Andas muito cansada, talvez devesses ter mais cuidado contigo... Sei que não é fácil, mas não há nada, mesmo nada, no teu dia-a-dia que possas pôr de lado? Ninguém tem de ser perfeito. Não andamos aqui a ter de provar alguma coisa a alguém, nem a nós mesmos. Claro que amor-próprio e ambição também são necessários, mas, por vezes, é preciso definir limites. Se possível...
Desejo melhores dias :)

Carla M. Soares disse...

Fico contente, Maphie. Einaudi é mesmo muito bom!

Cristina, estou de facto exausta, mas não sei que mais possa "cortar" que seja acessório - só se fosse a escrita e o blogue, mas então o que me sobrava? Beijinho