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quinta-feira, 24 de março de 2016

De volta!

Depois de quase duas semanas de total loucura escolar (para quem tem 8 turmas esta época é de trepar pelas paredes), com o concerto dos Ujos e um casamento no Norte pelo meio, estou de volta à escrita! 

Ontem já consegui meia dúzia de frases, ainda com a energia de uma preguiça. Não é só cansaço físico, este tipo de trabalho e o stress inevitável causam-me uma espécie de bloqueio mental, só vejo alunos e grelhas e números à frente. A noite passada, com tudo concluído, ainda sonhei com avaliações e umas certas grelhas de excel que temos de preencher Não tinham dentes nem corriam atrás de mim lançando gosmas fantasmagóricas, mas davam valores completamente errados, fizesse eu o que fazia, até entrar em desespero. Ou seja, até o pesadelo foi uma treta, e eu que de vez em quando tenho sonhos/pesadelos que mereciam que os transformasse em histórias!

Agora que tenho uma pausa absolutamente necessária, voltei ao Ano da Dançarina, e é exactamente aqui na página 216, que estou:

"Olhou para cima, com a estranha ideia de que, se as almas que se escapavam no instante da morte por ali ficassem algum tempo, a insultar os que despachavam assim, sem uma palavra amiga, ou a despedir-se dos que amavam e do mundo que conheciam, em breve estaria tão repleto o ar como o solo, as multidões de espíritos acotovelando-se e empurrando-se, como os vivos em dia de procissão. Enxotando a custo a impressão arrepiante de estar rodeado por eles, atravessou o Largo do Matadouro, onde outros dois embrulhos toscos assombravam a calçada, um longo e volumoso, o outro pequeno, encostado ao maior como se procurasse protecção. Mãe e filho, avô e neta, dois desconhecidos unidos pelo fim. Apercebeu-se de que quase corria e desacelerou o passo, o seu caminho não o levava para longe da morte, mas na sua direção. Engoliu em seco, desgostado consigo mesmo. Devia estar acostumado à tragédia, vida e morte faziam parte do seu dia a dia em partes iguais, mas o que tinham entre mãos… As medidas que iam sendo tomadas eram necessárias, salvo alguns exageros precipitados pelo medo e pela ignorância do povo, mas eram um penso colocado sobre uma barriga aberta.
Contornou parte do enorme edifício do Liceu e passou o seu largo portão, por onde nesse Outono não entrariam os jovens que ali deviam estudar, nem o fariam, por decreto do Governo, ali ou noutra escola enquanto não estivesse saneada a ameaça. Junto à entrada, dois homens puxavam uma mulher inanimada de cima de uma carroça que partilhara com vários outros doentes. Esperou junto aos degraus na porta principal, aberta para deixá-los passar.
- Bom dia. – cumprimentou – Mais um?
- Bom dia, doutor. – A voz abafada pelo tecido era pesada e amarga. – Veio cheio e vai já sair outra vez. E lá dentro está a ficar mau. Apresse-se, que faz falta.
Com passos pesados, Mendes de Almeida entrou nesse espaço de vida, convertido pelas circunstâncias numa antecâmara da morte. E ele, que jurara curar e proteger, não era ali senão um cangalheiro. " 

Enfim, estou de volta, mas para escrever tenho de deixar este cantinho aqui, que tem estado tão abandonado. Vim dizer olá. OLÁ! E pronto. 





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