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sábado, 20 de fevereiro de 2016

Até os gigantes tombam

Morreram no mesmo dia Humberco Eco e Harper Lee. Bam! Bam!
Não são os primeiros deste início de ano, em que parece que que colhe vidas anda por ocupadíssimo a escolher nomes relevantes. Devem fazer falta lá para onde os leva. 

Não me choca a passagem... não. Chamemos os bois pelos nomes. Não me choca a morte de pessoas de idade avançada. Afinal é o ciclo natural da vida que se morra ao fim de muitos anos, quando o corpo se esgota. Fica-se um pouco tonto com a sequência, isso sim, desde o início de Janeiro que parece que bam!bam!bam! Um e outro e outro, sem se saber de antemão que estavam doentes, ou fragilizados. 

(Choca-me a morte de gente jovem - ou, vá, mais jovem - que devia ter ainda muito para dar. Choca-me a notícia de meninas atiradas ao rio pela mãe, de um chef de 41 anos que se suícida ou de um actor de pouco mais de 50 que cai de repente na rua e já não volta a despertar.) 

Tenho é a sensação de perda, sem que a perda seja minha. Ou talvez seja, porque Bowies, Rickmans e Ecos e outros como eles fazem parte da paisagem da minha vida. E se Lisboa desaparecesse? Paris? Londres? Os lugares que temos como certos? A impressão é essa, de que gente como esta é feita de pedra, são elementos sólidos neste mundo, invencíveis, sobrehumanos. Porque os conhecemos como conhecemos as lendas, não mais, não nos ocorre que possam ser mortais, como nós, com um corpo de simples carne, coisa pouca e destinada a, mais cedo ou mais tarde, falhar.  

A alguns, parece-nos, devia ser dada a possibilidade ficar, para de perpétuar o seu génio e a sua criatividade, ou porque são gente tão boa, tão boa, que parece que este mundo precisa deles. Sabemos que não precisa, que o tempo continua a rolar como antes deles, mas isso pouco importa. Sabemos, claro, que o que deles nos encanta - porque somos espectadores e leitores, não seus filhos ou irmãos - não se vai. Os seus textos, os seus filmes, as suas canções, as suas figuras permanecem, foi só a sua presença física que escapou. E é isso que nos choca - perceber que até os gigantes tombam... e nós que somos tão pequenos! Durante uns momentos, o chão sacode mesmo. E depois o pó assenta e segue tudo como antes.

(nota: li Eco, não li ainda How to Kill a Mocking Bird. Sou há anos fã de Rickman e da excelência camaleónica de Bowie)

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