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terça-feira, 23 de junho de 2015

Mulher de Ouro - Simon Curtis



Desde que ouvi falar neste filme pela primeira vez e me apercebi de que era (1) sobre pintura, (2) sobre História, (3) com a Helen Mirren, que ele se tornou obrigatório para mim. Também sabia que era sobre tribunais, o que não cai nas minhas preferências, mas isso jamais seria suficiente para sequer ensombrar o meu desejo de vê-lo.




O filme tem com base o processo de recuperação da(s) obra(s) de Klimt, Adele (i.e.Woman in Gold), por Maria Altman. Adele é o retrato da sua belíssima e muito amada tia Adele, encomendado pelo seu tio e levado pelos judeus na fase de anexação da Áustria, e, como diz certa personagem, "a Mona Lisa da Áustria". Ainda que a arte esteja no centro da história, não cheguei exactamente a sneti-la, ou a ter oportunidade de me deixar envolver por ela, como acontece, por exemplo, em A Rapariga do Brinco de Pérola. A história não é a deste luxuoso quadro,  menos ainda a de Klimt, do qual temos apenas um pequeno apontamento, mas a de Maria, de Randy, o seu advogado, e da sua ligação à herança judaica.

São as dificuldades de recuperação dos quadros (e as recordações, de que falarei adiante) que vão pautando o ritmo do filme. Tanto quanto percebi, este "cola-se"  aos factos que lhe deram origem, o que pode torná-lo um pouco mais denso nos aspectos legai, mas é, a meu ver, um ponto positivo. Não passamos o filme no tribunal, nem há, felizmente, nenhuma longa cena de julgamento. Há vários meandros, voltas, avanços e recuos. Quanto ao desfecho, que é o verdadeiro (fui pesquisar), não sei bem o que pensar. Por um lado, compreendo a personagem, que, mais do que recuperar o quadro, deseja  o reconhecimento por parte do estado austríaco da apropriação do que não lhe pertencia, e da sua associação aos ideais nazis. Por outro, creio que preferiria outro desfecho - um em que a generosidade da personagem permitisse que o quadro permanecesse com o povo que o incorporou na sua herança cultural. Ainda que, pela perspectiva assumida e sabendo como foi o holocausto, seja fácil torcer por Maria... não sei.


O outro elemento relevante do filme são os flashbacks. Eu, que aprecio os aspectos históricos, gostaria de ter tido mais destes, ter visto mais do que aconteceu à família e aos outros judeus austríacos. Não é novidade, claro, sabemos todos o que aconteceu aos judeus em geral, mas teria sido interessante conhecer mais do destino destas famílias de artistas Vislumbra-se uma sociedade erudita, de pintores, músicos, escritores, etc, que frequentam a casa de Maria, mas pouco se vê deles. Ora isso é que gostaria de ter visto, mas então o filme talvez tivesse de ser outro... porque estes aspectos assentam em fragmentos de memórias de uma Maria que regressa a elas muito contrariada, e, como tal, recebemos apenas o seu ponto de vista, em momentos muito específicos e relevantes para ela - como o casamento, a chegada dos nazis e roubo dos bens ou a sua fuga. 

Devo dizer, porém , que, apesar de todos os pesares, tive muito prazer em ver este filme. Talvez porque Helen Mirren é uma senhora. Ponto final. E Viena deve ser bonita. Nunca tive, até aqui, qualquer interesse em conhecer a Áustria, mas até fiquei com vontade. Pena já não poder ir ver este Klimt ao Belvedere. Agora tenho de ir vê-lo a Nova Iorque. 


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