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quarta-feira, 10 de junho de 2015

Mad Max - Fury Road. Gostei muito... mas porquê?

Já não esperava ir ver este filme ao cinema, o que quer dizer que já não esperava ver este filme de todo, porque o insiro na categoria dos que, a ser vistos, devem beneficiar da grande tela. E é mesmo assim.

Não há grande coisa a dizer sobre a história em Fury Road. É linear e dentro do que costuma ser habitual nestes filmes - começamos com uma situação terrível, e depois há fuga, salvamento, perseguição, vitória. Estrada, estrada, estrada (ou condução, condução, condução, que estradas não há), morte, morte, morte. Temos a nossa heroína badass e o lone boy, ambos assombrados pelos respectivos passados, temos as donzelas para salvar, que, num filme de 2015, não poderiam ser inteiramente indefesas, nem salvar-se todas, temos o grande vilão, mesmo, mesmo mau, e os seus cúmplices, e o pequeno vilão que se converte e passa a herói. 

Até aqui, teria todos os motivos para não gostar do filme. Não há nada que escape aos clichés do género... não sei, aliás, se há muito no filme que lhes fuja. Então porque é que eu gostei tanto dele?

Em primeiro lugar, porque não creio que tente escapar a cliché nenhum. Assume o género e representa-o, levado ao extremo. Não brinca consigo próprio, simplemente afirma: sou isto. Em torno disso, retoma a distopia da série Mad Max com excelência, no horror desse nosso futuro violento e desertificado, em que a falta de água e a deformação física são omnipresentes. O combustível, que esteve no centro de outros filmes, serve aqui sobretudo como pretexto para a fuga inicial (faz sentido em 2015, quando a preocupação é sobretudo com o destino e natureza do Homem e com a água) mas os veículos automóveis continuam a estar no centro da acção, com transformações brutais, que me fizeram sorrir muitas vezes... por exemplo, o enorme veículo de guerra com o monstro-rocker na frente, como num palco, a tocar guitarra eléctrica durante toda a perseguição. Bela piscadela aos anos 80! 

O armamento é escasso, a tecnologia nula mas a imaginação não, e tudo tem um feeling bárbaro e enlouquecido, única possíbilidade num mundo sequioso, escravizado e deformado por radiações e doenças. Poucos são os que não sofrem de uma qualquer deformação, incluindo o Imortan - o vilão escravizador - cujo harém de parideiras perfeitas, que podem dar-lhe os bébés perfeitos, Furiosa ajuda a escapar. É quase caricatural, esta distopia, e isso agrada-me.

Em segundo lugar... é impossível não respeitar Charlize Theron. Impossível. A mulher é camaleónica. Sendo belíssima, é capaz de se fazer feíssima, como em Monster, ou, como aqui, ser lindíssima na sua imperfeição. De cabelo quase rapado, maneta, e dura, protectora, intensa, feroz, ferida por dentro, incapaz de um sorriso... Furiosa. Luta como qualquer homem, porque não há concessões sexistas aqui, felizmente, e é a fúria do título e a do filme. Tom Hardy, Mad Max, complementa-a muito bem. Para além de ser mesmo bonito (quase tanto como Mel Gibson era no primeiro Mad Max), o actor tem a aura adequada de bad boy solitário, com uma figura intensa, e aguenta muito bem, claro, o aspecto físico. Nicholas Hoult, decerto já habituado a fazer de monstrinho pálido e canibal, está bem na sua transição de vilãozinho a herói (e a minha filha exclamou "fixe!" quando ele apareceu). Achei interessante que o grupo que, no final, combate e vence o vilão tivesse apenas dois homens, e que a maioria das mulheres desse grupo já tivesse passado há muito os verdes anos. 

E a acção? perguntais. Então e a acção?

Pois é, a acção. A acção! A coisa arranca depressa e já não pára. Não há tempo para respirar. As sequências são brutais, em todos os sentidos. São rápidas, espectaculares e violentas. Não poupam ninguém, nem grávidas ou velhinhas. E é por isso que este filme, a ser visto, tem de sê-lo no grande ecrã, para se poder usufruir de toda a espectacularidade das cenas de perseguição e batalha, e das inevitável mortes horríveis. Não há muito tempo para nos arrepiarmos: a grávida acabou de ficar debaixo de um veículo? Dois segundos depois, já estoira uma bomba de fogo sobre o motor do camião em fuga e logo a seguir há tiros dentro da cabina e ao mesmo é preciso alguém ir à parte de trás soltar o depósito de "guzolina"... É um exemplo, lembro-me lá eu, no meio de todas as sequências de acção, se a ordem é mesmo esta!

É também um filme sobre desespero e esperança, o que, ao fim e ao cabo, acaba por ser um belo cliché para este cliché tão bem montado e assumido! Não faço ideia se é um grande filme ou uma treta, nem isso me importa. A mim, encheu-me as medidas, sobretudo por ser apenas o que é, sem pretensões. E ser brutal.

Nota: Devo esclarecer, como fiz num comentário, que o filme me encheu as medidas dentro do género, claro, essencialmente como filme de entretenimento (e creio que é isso que se pretende). Reconheço-lhe muitos méritos, mas isso creio que ficou claro no texto. 

2 comentários:

Ricardo António Alves disse...

Também o vi ontem, e concordo com o texto. Só não me encheu as medidas. Isso, só o Mas Max inicial, que me causou uma sensação de estranhamento (e de entranhamento ;) que este não logrou. Também, entre um e outro, já devem ir quase 40 anos, os anos de vida que tenho a mais...

Carla M. Soares disse...

Eu não vi o primeiro Mad Max quando saiu, Ricardo, em 1979 tinha apenas 8 anos.
Vi-o já adulta, e por essa altura já esse efeito que podia ou devia ter produzido se esbatera.

Se calhar devo esclarecer o "encher as medidas", porque me enche as medidas dentro do género, claro, e de forma passageira. Não ser´um filme a recordar para sempre ou rever com frequência. Reconheço-lhe muitos méritos, porém, mas isso creio que ficou claro no texto. Pensando bem, creio que vou copiar este bocadinho para a publicação...