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sábado, 25 de abril de 2015

A Filha do Barão - Célia Correia Loureiro

Desde que este livro saiu - como primeiro livro RTP - que estava nas minhas intenções lê-lo. Já tinha lido os outros da Célia e conheço bem, portanto, o seu potencial e qualidade.

Comecei-o em Dezembro, depois de o meu Cavalheiro ter sido o último dos livros RTP do ano... sim, em Dezembro, leram bem. Há uma eternidade. Comecei-o com grandes reticências, por me encontrar numa espécie de "seca" de leitura e escrita e pressentir que qualquer leitura corria o risco de arrastar-se e até de ser prejudicada pela minha falta de ânimo. Tinha razão. Eu, que aprecio sempre melhor um livro quando o leio de rajada, porque me envolvo mais, acabei por levar mais de 3 meses, o que não se justifica nem pela extensão do livro, embora seja extenso, nem pela escrita, que não é pesada nem aborrecida. Durante esse período, também não li praticamente mais nada... Recentemente recuperei o embalo e pronto, terminei-o!

A pesquisa da vertente histórica - falamos das invasões francesas - parece-me excelente, e o livro está integrado na época de forma suficientemente subtil e exacta para não nos acharmos a receber uma lição de história, mas para sentirmos de facto a época. Somos imersos nela, em vez de nos ser estendida numa bandeja e explicada à exaustão, o que me agrada e procuro também para os meus livros. A história encontra-se muito bem inserida na História e podemos, com certa facilidade, imaginar como estes acontecimentos pessoais, estas histórias de amores e desamores, traições e lealdades poderia ter decorrido neste período. O enredo é bastante conturbado neste sentido, há várias traições e suas consequências, mas não vou adiantar-me por aqui, para não estragar nenhuma leitura. 

As personagens têm caracteristícas bastante vincadas, o que faz com que a empatia com elas seja bastante variável. D. Sofia é difícil, o que é propositado, mas gostei mais de Daniel, por exemplo, do que de Mariana... e gostei bastante de Isabel, que, nas suas fragilidades, me pareceu ainda assim bastante digna e equilibrada. As acções de cada personagem e as suas curvas de crescimento na história são coerentes e naturais, conduzidas pelos acontecimentos e experiências de cada uma. Nada é preto e branco nelas, não há bem nem mal, há uma vasta área cinzenta em que, como na vida, as personagens se movem, e, porque são humanas, erram tanto quanto acertam. Isso é bom, porque é assim que se vive. Percebem-se as suas motivações, mesmo quando nem tudo o que fazem ou dizem agrada.

A escrita da Célia está, como deve acontecer, mais sólida e apurada, notando-se o cuidado de adequá-la à narrativa histórica. É bonita e, sem ser simplista, despe-se das complexidades que poderiam tornar fastidiosa e difícil esta leitura tão longa e datalhada. Destaco dois momentos muito diferentes no enredo, um mais íntimo, outro histórico: D.Sofia com Mariana e a sua tesoura e  ataque dos franceses ao Porto, a minha cena favorita de todo o livro. Está muito bem descrita, ilustrativa sem se perderem nem a narrativa, nem a personagens. Muito boa,


É, em súmula, um óptimo romance histórico, bem construído e muito interessante, que promete uma bela continuação. Não dou os parabéns à Célia, porque não precisa deles, sabe decerto que tem aqui um belo livro. Devia tê-lo lido numa fase diferente da minha vida de leitora, e nisso, peço as minhas desculpas à autora, não só porque merecia uma leitura mais rápida e intensa, que é, afinal, como leio melhor e com mais prazer, mas também por saber que as leituras paradas não são agradáveis para o autor. 

Sei que há uma continuação (que o fim pede, sem dúvida) e eu quero lê-la... e prometo só o fazer em bom momento, para não voltar a demorar tanto tempo.  

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