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domingo, 8 de março de 2015

Na bilheteira - Kingsman

Não é bem rúbrica nova, porque sempre fui aqui falando dos filmes que vejo no cinema. Tenho ignorado em geral os que vejo em casa, mas como são muitos e alguns interessantes, talvez passe a referir um ou outro aqui de quando em quando.

Não é nova, nem prometo regularidade - o que passa é a ter nome, vamos ver se tem rosto também.


Resultado de imagem para kingsmanKINGSMAN - Serviço Secreto

Uma espécie de paródia tongue in cheek dos filmes de James Bond, com Colin Firth ao leme e Samuel L. Jackson como vilão?  É recusável a proposta? Para mim, não. E é para ver no cinema, porque o trailer prometia umas quantas cenas de acção que mereciam um grande ecrã. Li também uma ou outra opinião, que me deixaram com mais vontade, mas das quais agora vou ter que lutar para separar-me, por estar tão de acordo com elas.

A ligação / brincadeira / jogo com James Bond não é subtil. É in your face e com humor suficiente para ficar ali mesmo à beira do nonsense, como eu gosto. Muito british, com um herói espião e uma intriga que retoma o velho James Bond (ele admite que são as velhas películas que o fascinam).  Até o toque de modernidade na escolha do aprendiz underdog é admitido em tela, o filme a desmanchar todos os mecanismos destes filmes, enquanto os usa descaradamente, repescando e reconhecendo os seus processos, manias e figurinos, como , por exemplo, o disparate dos velhos gadgets de Bond, canetas, isqueiros, chapéus de chuva, fatos "especiais" à medida, etc, etc.

A intriga é de grande exagero e sabe-o, com uma ameaça à escala mundial tão inverosímil como hilariante, e ao seu desenvolvimento. Tudo é bondiano no desenrolar da história e o facto de isso ser admitido na tela divertiu-me muito. Gosto de filmes que não se levam demasiado a sério. Conversa aproximada, diz o vilão: "Sabe aqueles filmes em que o vilão explica em detalhe o seu plano e encontra uma maneira enrolada de matar o herói, e o herói encontra uma maneira complicada de escapar? Este não é um desses filmes." E 'pum'! Não é, nesse instante - só que é, em tudo o mais, um desses filmes. E isso é muito bom.   

Colin Firth, um dos actores mais charmosos actualmente, usa de toda a sua fleuma, com resultados tão impecáveis como os seus fatos e cabelos no fim de uma luta - tão old James Bond, isso! - e é surpreendentemente plausível no papel, mesmo nas cenas de acção, em que jamais o imaginara. Li algures que desempenhou uma boa parte delas ele mesmo... custa-me a imaginar, mas é fascinante. É vê-lo envolver-se em confrontos de absoluta brutalidade com uma elegância de bailarino, e sair delas à James Bond dos velhos tempos, impecável como o cavalheiro que é e deve sempre ser. 

Não conhecia o actor que representa o segundo herói, o jovem Eggsy, nem deve ser conhecido porque a minha jovem de 15 anos também não o reconheceu - mas disse assim que apareceu: "É giro!" Nada de surpreendente aqui, ele faz o papel de Cinderela-espião, o jovem que muda e se adapta e se recupera, e está muito bem nele. O que torna aceitável o cliché é... o reconhecimento do cliché. Galahad (Colin Firth) faz referência a uma série de filmes desse género, incluindo Pretty Woman, que o jovem nunca viu, e menciona essa mudança. Detalhe giro: o que o jovem conhece é My Fair Lady. Good for you, my chap! 

Samuel L. Jackson é um vilão sopinha de massa e colorido, que não gosta de matar - ele mesmo, porque detesta sangue - mas tem planos para matar à escala mundial. Chega a ser simpática a sua figura, mais louco que vilão, o que me fez desejar que o plano fosse desmantelado, mas não me fez desejar um fim terrível para ele. A sua sidekick, Gazelle, é a figura feminina mais poderosa (dentro do género Bond girl, há sempre uma ajudante de vilão jeitosa) e um empurrãozinho no sentido de valorizar quem está diminuído fisicamente - ela tem duas extraordinárias próteses nas pernas, que utiliza como armas precisas e sanguinárias. 

A acção, tanto no treino de Eggsy, como no combate ao vilão, é encenada para ser o mais brutal, exagerada e gore possível, sangue e partes do corpo decepadas em primeiro plano, gente comum a matar-se com todos os meios ao dispor. Destaco inevitavelmente a cena da igreja, frenética e absurda, e um certo fogo de artifício no final, que deveria ser repulsivo, mas arrancou gargalhadas ao cinema inteiro, tal absurdo - propositado, claro, e muito bem trabalhado.

Do que é que não gostei? Francamente, de uma certa promessa feita a Eggsy, no lugar de Galahad,  pela princesa da Suécia (creio) caso ele salve o mundo. É desnecessária e idiota, preferia a sugestão do que a afirmação. Gostava de ter visto uma figura feminina forte, porque Roxy, a outra jovem espiã, não chega, é apenas uma Bond girl. É no espiríto de paródia Bon que "perdoo" esta ausência, que foi decerto propositada... porque é este espírito brincalhão que me agrada tanto no filme. Se fizerem outro, vou ver, mesmo sem Colin Firth. 


1 comentário:

Ivonne Zuzarte disse...

Ai, o Colin Firth! Consegui lavar as vistas ao ver "Orgulho e Preconceito" o ano passado :) ando para ver "O Discurso do Rei" desde que saiu... o que faz com que esteja cinco anos atrasada!

A opinião deixou-me com vontade de ver, mas não tenho andado virada para o cinema. Vejo um filme aqui e ali, mais ao estilo de "guilty pleasure", que alimenta o riso mas não o conhecimento e 'tá a andar :( vergonha!

A filhota tem razão, é giro, é :D eheh