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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Angelfall e World After (Penryn & The End of Days)... e agora?

Tenho muito pouca vontade, nos últimos tempos, de escrita de qualquer tipo. De escrever livros, mas também os poemas que tenho vindo a partilhar aqui no blogue e opiniões sobre o que leio. Vou deixar, porém uma palavrinha sobre estes, o princípio de uma série, porque foram uma surpresa muito agradável.


Histórias sobre distopias estão na moda, sobretudo na literatura YA. Também estiveram na moda, durante algum tempo, fantasias com anjos (não sei bem se ainda estão), mas parece-me que com uma certa tendência para romantizar excessivamente e aplicar clichés adolescentes nesta ideia com um tremendo potencial. Tenho fugido à tentação de ler livros que misturem teens e anjos - fiquei-me pelos que misturam adultos e anjos, e mesmo assim só os da Nalini Singh. *wink, wink* 


Não sei bem o que li sobre Angelfall que me fez adquiri-lo, mas tinha-o há algum tempo no meu kindle, há espera de um momento como este, em que me apetecesse mesmo mesmo regressar à fantasia.  Acontece de forma recorrente. Não tenho escrito nada do género (em abono da verdade, não tenho escrito, ponto final) mas acredito que serei sempre, em parte, escritora de fantasia. E leitora, claro. 

Em Angelfall, Susan Ee constrói um mundo tal como o conhecemos... ou devo dizer destrói? Sim. Destrói o mundo como o conhecemos. A acção decorre no presente, ou num futuro que podia ser daqui a dois meses, que é o período decorrido desde o Fim do Mundo, o Fim dos Dias e o início da acção. Nessa altura os anjos desceram à terra (sim, Miguel, Gabriel, Rafael, Uriel e os restantes arcanjos, com uma hoste de anjos guerreiros e outros que nem por isso) e com a sua chegada vieram tufões, tremores de terra, tsunamis que destruiram parte dos continentes e dizimaram a maior parte da população humana. Ocuparam os lugares que desejaram na terra, perseguindo os humanos, e a população que resta age como se esperaria num mundo destruído: sobrevive como pode, lidando com os novos monstros, o pavor, a morte, a fome, o frio, uns com os outros. Há os que se unem para resistir, há os que simplesmente vão existindo e há os que se submetem aos anjos e trabalham para eles para garantir a sua sobrevivência e a dos seus... como acontece sempre que os mais fortes subjugam os mais fracos. Os anjos, por sua vez, não sabem porque vieram. Têm ordens, como um exército, para tomar este campo de batalha poluído por "macacos" (nós, claro), e há entre eles ambições e lutas políticas pelas posições de maior poder. 

Não sabemos nada disto no início da narrativa, porque Penryn, a rapariga de dezassete anos que é narrador na primeira pessoa, nada sabe a não ser que continua, neste apocalipse, a ser responsável pela irmã paraplégica de sete anos e pela mãe esquizófrenica, como era no Mundo de Antes. Quando as conhecemos, preparam-se para fugir, a coberto da noite, da sua casa para as montanhas, esperando sobreviver não só aos gangues como aos anjos. A fuga interfere numa luta entre anjos, em que um grupo arranca as asas a um anjo solitário. Penryn intervém em seu auxílio (é ler para perceber porque faz tal disparate) e a pequena Paige acaba por ser levada pelos anjos. Penryn vê-se obrigada a salvar o arcanjo Rafael (Rafe), agora sem asas, na esperança de que ele lhe diga como recuperar a irmã. É aos poucos que, pelos olhos de Penryn, vamos percebendo o grau de destruição, sabendo como se chegou a ela e como agem humanos e anjos, as semelhanças que têm e as enormes diferenças - não só através de Rafe mas no contacto com os outros anjos, enquanto grupo, ao procurar a irmã. 

Não vou contar a história, talvez até já o tenha feito em demasia. Digo apenas que Penryn me agradou enquanto protagonista adolescente. É credível a sua posição no Mundo Depois, inteiramente capaz de defender-se, dura e ao mesmo tempo  toda coração, inteligente mas com as dúvidas, medos, tentações e fraquezas adolescentes.Se lhe apanhamos algum pensamento mais tonto e/ou desadequado ao momento, Penryn apercebe-se de imediato e ele é reprimido. Não há insta-love como é costume, e também não há contemplações quanto à violência, seja ela dirigida aos anjos, aos humanos, adultos ou crianças. Há muito sangue e mortes feias, descobertas terríveis, criaturas arrepiantes, momentos que me enojaram e me arrepiaram. E no meio disto tudo a teimosia e força de Penryn, com a qual me foi muito fácil criar empatia, tanto quanto me exasperei. Aqui e ali uma expressão ou ideia pode tornar-se um pouco repetitiva, mas no global o ritmo é acelerado e é muito interessante ver o mundo pelos olhos da jovem. 

Não será para agradar a todos, claro. Embora mais centrado na sobrevivência e no mundo apocalíptico do que em dramas adolescentes, não deixa de ser YA e estar na primeira pessoa, uma pessoa de 17 anos desesperada para salvar a família e que se farta de pensar na vida enquanto age e também se lamenta um pouco, apenas um pouco, como evitá-lo? O mundo está feio. Já não é o nosso mundo, é um cenário de guerra. Os anjos são belos mas não são "angelicais", alguns não me pareceram particularmente inteligentes e todos nos encaram como criaturas insignificantes, macacos que não representam nenhum perigo. O romance proíbido pouco passa de uma sugestão. Há uma criança que vai de mal a pior nas mãos dos anjos, uma mãe louca e violenta... Mas com tudo isto, os livros são "leves" e rápidos, li o primeiro num instante e não resisti a ir buscar o segundo, que tentei fazer render sem grande sucesso... 

O maior defeito desta série? É não estar sequer prevista a data de lançamento do terceiro... E agora?

Nota(s): 
Primeiro, acho as capas bastante bonitas. 
Segundo, é curioso que com tanto anjo, Deus pouco seja referido. Na verdade, apenas o Mensageiro Gabriel, o big boss, "falava" com ele e no início da narrativa já está morto. Nunca ficamos inteiramente certos (nem os anjos) se ele recebia ou fabricava as ordens... Afinal os anjos cumprem ou não ordens superiores? De quem? 

1 comentário:

milureis disse...

Afiaste-me a curiosidade, e agora...não sei inglês :'( e duvido que venha para Portugal!!!