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terça-feira, 12 de agosto de 2014

um guincho no asfalto ardente

Aquieta-se a esta hora a luz
um milhar de milhão de pessoas suspende
a consciência e a voz
acomodo-me num lugar sem cor
à distância de uma galáxia
de ruas prédios árvores candeeiros
fico no centro do que me sai das mãos
em linhas como o assobio do vento
na janela entreaberta
sou olho de furacão com nome de fêmea
nó de vazio na emoção estridente
das cordas do violino
no aparelho de som
há um automóvel que trava
em guincho no asfalto ainda ardente
suspende o acorde e lembro-me
algures há alguém
outra mulher como eu
um homem talvez
a fazer de palavras carreiros de formigas
a abrir com os dedos rasgões
no espaço no tempo
no sorriso rígido das manhãs e tardes
na indiferença aguda do relógio
seriam rasgados em mim
se me chegassem as suas dissonâncias
sorrio às minhas escolho o termo
e embrulho a vontade de saber
numa metáfora






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