Páginas

sábado, 16 de agosto de 2014

o Tejo a meio caminho

é móvel e vivo o verde à minha frente
na brisa que traz o perfume a fruto maduro
alimentam-se as árvores do Tejo a meio caminho
largo e aninhado em si mesmo e nas margens
que só o contêm neste tempo de estio
um sino há de anunciar-se de hora a hora
em moderno toque deslocado na aldeia
de feio casario empilhado à toa
acabado em tijolo sem tradição nem arte
zumbem abelhas sobre flores abertas
há gatos de campo a vadiar na relva
é alegre e bucólico a perder de vista
e eu vejo-me ausente neste espaço tranquilo
entra-me pelos olhos mas está longe a alma
seduz-me o silêncio mas é breve e repleto
e há nele uma solidão que não é de paz
encho o peito de ar e refugio-me na distância
mas vêm palavras encher-me as veias
umas doces e outras mais duras e àsperas
à espera todas elas que as arrume algures
ou que as deite para fora já arrependidas
de arrasar a sobra de risco que ainda me orienta
num caminho qualquer que nem sei se é meu

Sem comentários: