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sexta-feira, 1 de agosto de 2014

O riso como arma

Infelizmente, sei bem de onde vem a ideia peregrina do político turco de que "Um homem deve ter moralidade, mas uma mulher também. [Ela] deve saber o que é decente e o que não é decente. Não deve rir-se alto à frente do mundo inteiro e deve preservar a decência em todos os momentos". Tem centenas de anos e há muito que devia estar ultrapassada, foi para não rir por trás do leque e não baixar a cabeça às decisões dos homens que tantas mulheres lutaram nos séculos XIX e XX, e algumas perderam a vida.  

Sabemos que esta e outras noções piores permanecem em determinadas culturas e que, em alguns países têm voltado a ganhar peso. Associamo-las a  Meca, a burkas e casamentos forçados, violações que punem a vítima e proibições de estudar e conduzir. A lutas de meninas corajosas como Malala e a outras que, só por dar a cara, quantas vezes desfeita por ácidos em actos originários na própria família, já ganham um lugar na minha galeria de heróis.

 Pode ler e ver em Boas Notícias.
Mas a Turquia não é um país muçulmano. Ou, pelo menos, não o é inteiramente, tem-se ouvido falar do desejo turco de ser europeu, e do desejo turco de ser muçulmano. Esquizofrénico, talvez, mas por ora tem funcionado, a Turquia tem um lado ocidentalizado que modera e liberaliza os costumes mais duros e faz deste um país (por enquanto) livre e interessante. E esta é a prova. Às palavras do político sobre a indecência feminina de rir em público, a que certamente se seguiria a de falar e ter opinião, conduzir, vestir, trabalhar, ser mulher, vêm milhares de mulheres turcas fazer notícia, dando uma bela gargalhada na cara do político conservador e mostrando nas redes sociais que rir ainda é o melhor remédio e a melhora arma. Neste caso, os únicos possíveis contra tanta estupidez.  

Há dias que estou para dizer: viva elas! Viva nós!



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