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sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Muito riso do pouco sizo de Cafuné, de Mário Zambujal

A minha curiosidade para conhecer o trabalho deste escritor (parece que ultimamente é só o que faço, travar-me de conhecimentos com novas escritas), cresceu exponencialmente quando, há pouco tempo, ouvi da boca de João Rebocho Pais uma comparação de estilo com o livrinho que acabara de ler, Todos os Dias São Meus, de Ana Saragoça. Se pressentia que havia de agradar-me, fiquei quase certa. E não me enganei, mas não pelos motivos esperados.

Talvez devesse ter principiado por A Crónica dos Bons Malandros ou outro dos mais antigos, até porque não sei se este Cafuné é representativo da escrita de Mário Zambujal. Pouco importa. Houve muitas razões para gostar deste livro, como a forma descontraída mas informativa de inseri-lo na época das invasões francesas, o pícaro das personagens e da linguagem, a simplicidade da narrativa, que tão bem se adequou à simplicidade da história. 

Temos Carlota Joaquina, invasões francesas, excessos ingleses e portuguesismos que incluem vinganças patéticas mas insistentes e a fuga da corte para o Brasil, tudo isto com sabor a iscas com todos, regadas a vinho branco na tasca da esquina, delicadamente degustadas pela menina de família numa mesinha ao fundo, acompanhada daquele cocheiro. Aquele. O que lhe anima as tardes de tédio. Não acontece nada disto no livro, mas é este o sabor. 

Para gostar do livro bastou-me o sorriso quase permanente com que li, e as muitas gargalhadas que uma frase ou situação me arrancaram. Quase todas foram situações entre pernas, é verdade, mas está na natureza do livro, que é uma história de encantos sensuais, e na natureza da sua personagem princípal. Rodrigo é um fogoso rapaz de dezassete anos com boa estatura, pouco sizo e grande apreço por artelhos, mamas (sim, mamas e não seios, e fofos e cús e fornicanço, os bois quase, quase pelos nomes), e por caras bonitas de todos os tipos e classes sociais, que de pescador perseguido por inconveniências com certa moça - não conto, não conto - chega a... como diz o título, a "secretário da amiga da aia da rainha". E que secretariado! Pelo meio, a ajuda de um antigo clérigo que deixou de o ser, Frei Urbino, que muito se preocupa com os excessos amorosos do rapaz, e de Dália, burguesinha de posses, doce amiga da aia da rainha com um jeitinho especial para fazer cafuné, mesmo sem saber que assim se chama. 

No meio de tudo isto, diverti-me muito e entendi que, pelo menos com este livro, a comparação está mal feita, porque o livro lembrou-me vagamente foi o do próprio João, O Intrínseco de Manolo. Quero ler outros para ver se também vislumbro a Ana...

1 comentário:

Marisa Luna disse...

Boa noite
Ainda não tive coragem de ler Mário Zambujal, mas fiquei curiosa em relação a este livro e, pela sua crítica, pareceu-me uma boa aposta para começar a ler este escritor.
Obrigada pela partilha
Bom fim de semana