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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Isto também é opinião? Nah.



Escolhera o livro pela capa com rapariga bonita e sol de Verão, a prometer  uma leitura leve como um copo de sangria branca ao fim do dia, e ele cumpria, com um início de prólogo, "Sinto-me feliz solteira, a sério que sinto. Na minha vida não há espaço para um homem. No meu guarda roupa não há espaço para as meias e para os casacos de malha dele, e em lado nenhum há espaço para os frascos de gel do cabelo ou para as lâminas de barbear." a sugerir uma história curiosa, sorrisos aqui e ali e nenhuma exigência. Não queria mais e o livro servia o propósito, era rápido de ler, com maravilhosas descrições da sua comida favorita, com cheiro a tomate, oregão e azeite virgem (ficava com o rabo ainda maior se provasse tudo aquilo e talvez nem se importasse), o sol dos olivais italianos, as ruas de Londres e raparigas e rapazes novos. 

Isso e a frase que a fizera pousar o livro, com um sorriso agridoce, e deixá-lo aberto no colo enquanto estudava a forma como as folhas das árvores desenhavam recortes negros e móveis no chão empredrado iluminado pelo sol brilhante de Agosto. Gostava do calor na pele e das formas sempre a mudar, a oscilar como se dançassem com a brisa. Estava surpreendida por haver, no meio de um diálogo inconsequente, uma frase a fazê-la tomar atenção. Releu-a, uma, outra vez, à procura dos motivos para travar ali, nas oito palavras insignificantes que lhe davam um amargo de estômago, "A vida é demasiado curta para esparguete integral". Descobriu que os conhecia a todos de cor e não era capaz de enunciar nenhum em voz alta. Estudou-os de todos os ângulos, pensando nas muitas coisas que podia fazer, no que estava nas suas mãos e no que não estava. Respirou fundo para expulsar pensamentos inúteis, pediu um café e pôs-lhe mais açucar do que o habitual. Depois voltou à descrição de um prato de pasta num almoço de Domingo de uma família italiana numerosa e ruidosa como as dos filmes. 


Nota: na leitura d' As Raparigas da Villa, de Nicky Pellegrinno, há  uma perda grande (uma rapariga de dezoito anos que perde os pais) e ainda não o terminei, mas a poucas páginas do fim acho que o que me vai ficar deste livro é a impressão de que o sol de verão na Itália é muito parecido com o nosso, o perfume dos pratos italianos, que adoro, aqui em excesso de quantidade e descrição, e as ruas de Londres, cidade em que me imagino a viver. Se o fim do livro me trouxer surpresas, escrevo de novo sobre ele, talvez até, quem sabe, uma opinião. Ehehehe. 

Outra nota, acabada a leitura: devo dizer que, como esperava, o fim trai o princípio e não está mal assim. Porque aquilo que diz também é verdade: "vejo que a vida não pode ser arrumada como um quarto. Que é uma coisa confusa - incerta, imperfeita e cheia de concessões." Diz mais coisas, termina a dizer que há mais de uma maneira de ser feliz, o que também é capaz de ser verdade. O que eu sei é que nunca, nem em miúda, fui capaz de ter um desses quartos arrumadinhos de revista. 

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