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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

horas de resistência


Está no centro de uma estrada que avança a direito pela planície familiar de erva rasteira. Traz sapatos rotos e a roupa de todos os dias. Uniforme de trabalho. Máscara, pode ser.

Vai sozinho mas não vai sozinho. Esteve sempre acompanhado dos seus fantasmas. Habitam-lhe espaços entre as costelas e na articulação do joelho esquerdo. Há algum tempo vai acompanhado também da carne e osso. Há carne e osso que sustém. Há carne e osso que pesa. Todos os fantasmas são pedras nos bolsos.

Por ora caminha a passo medido, de olhos nas pontas dos pés, mas sabe que um dia vai acontecer. Falha-lhe qualquer coisa na vontade que não é mensurável em horas de resistência. Mas sabe. Ou descola como avião rumo a lado nenhum que conheça, ou pára e transforma-se em laje no caminho. Ambos são possíveis. Ambos ferem. Não sabe qual o traduz.


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