Seis mulheres maduras sem experiência em teatro, seis jovens, das quais uma é actriz profissional e uma bailarina. Um pianista em palco. Uma cama de ferro, dessas tradicionais, tornada móvel por um conjunto de rodas nos pés. Meia dúzia de endereços, uns cadernos / livros de capa vermelha, um pano branco elástico, como um longo lençol. Vozes, lengalengas e canções, gestos, posições, ritmos, um pouco de dança, luzes, o vermelho em fundo, o jogo de luz e sombra.
Foi o necessário para, sem diálogos nem acção propriamente dita, contar uma história de mulheres para mulheres, sobre crescimento e envelhecimento e como as voltas da vida nos deixam muitas vezes no mesmo lugar, iguais embora diferentes. Sobre a repetição dos gestos femininos de uma para outra geração, sobre desejo de liberdade e prisão. E, porque nem uma palavra é dito que explique tudo isto, o que eu vi nem todos viram - o meu rapaz não viu nada e nada percebeu, não era coisa para um rapazinho entender, uma amiga viu o conflito de gerações, a minha filha viu mulheres com as suas sombras.
Vi a peça, se assim se pode chamar a esta espécie de performance, com prazer e angústia. É muito bela, os movimentos são belos, as ladaínhas, as intenções, mas a minha visão sobre ela é triste. Talvez reflita os meus medos, talvez seja feita para isso - para que cada um(a) extraia dela o que faz vibrar a sua corda interior. A coreografia, porque disso se trata acima de tudo, com os seus gestos repetidos e os seus gestos unicos, foi decerto pensada com cuidado para isso. A música em palco é parte integrante do sentimento da peça e muito bela. Parabéns Bernardo.
O mais bonito? Ver estas mulheres que, no Outono da vida, ainda encontram a vontade e a coragem para se estrear em palco numa encenação de um tema difícil. Um dia, hei de fazer o mesmo, ou ficará a faltar-me cumprir esta vontade - a de entrar numa peça.
Sinopse:
Tudo gira, roda e
volta ao mesmo. Menina, mulher, senhora, menina. Em Volta, as mulheres brincam,
dançam e recordam em várias direções. Na volta atrás, recordam-se com o corpo;
na volta à frente, recordam-se com os olhos postos nas “moças pequenas”. Todas
juntas, todas mulheres e todas com o mesmo ritmo, na descoberta do que foi e do
que ainda será. Uma mulher é uma mulher!
direção
artística Luís Filipe Silva
direção
coreográfica Isabel Costa
apoio
dramatúrgico Rui Mendonça
com
excertos de Chão de José Maria Vieira Mendes, diário de uma mulher anónima e
testemunhos das intérpretes
música
Bernardo Soares (a partir da memória coletiva das intérpretes)
desenho
de luz Vasco Ferreira
interpretação
Isabel Costa, Mónica Tavares (bailarinas), Bernardo Soares (músico) e mulheres
de Monção
produção
Comédias do Minho
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