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quinta-feira, 10 de julho de 2014

Uma Abelha na Chuva - Carlos de Oliveira

O meu exemplar de Uma Abelha na Chuva está anotado.

Tem coisas escritas nas margens, como esta, logo na página 33 " ele/eu - alternância entre a visão do narrador /visão da mulher/visão do marido". Tem sublinhados e parágrafos destacados com linhas verticais na margem, pedaços de folhas, umas rabiscadas outras não, a marcar certas páginas. Na primeira página assim marcada fala-se das relações entre classes, "sangue por dinheiro", os casamentos arranjados. Noutra, discute-se a morte e uma das personagens apercebe-se, com certo choque, da sua própria mortalidade. Noutra ainda, que não sei se marquei de propósito ou se a folha lá foi parar por acidente, fala-se da mexeriquice de aldeia sobre a o padre e a sua irmã, ou talvez não-irmã... 

Esta leitura de 1996 - costumava colocar o meu nome e o ano da leitura a tinta nos livros - foi vítima de um ensaio para um qualquer seminário do curso, de certeza. Foi mesmo nesse ano que comecei a trabalhar, o que faz recuar esta leitura pelo menos 18 anos no tempo da minha vida. Uma maioridade. 

Não faço ideia nenhuma de que tese defendi no tal ensaio, mas na releitura rápida do texto depressa retenho o que me fez gostar deste livro há tantos anos: há adultério, paixão, inveja e crime, um verdadeiro e magistral folhetim, expondo os viciozinhos pessoais e da aldeia com modernas ironia e crueza, as mesmas com que contempla as personagens, sem ser todavia desapaixonado, em capítulos muito curtos, que nos levam numa leitura desenfreada...  Peguei no livro por instantes, a relembrar, e dei por mim quase a meio. E a ler um pedaço aqui, outro ali, com um sorriso nos lábios e a compreensão do motivo porque está na estante e não numa caixa etiquetada "faculdade" no sotão em casa dos meus pais...

O meu último sublinhado, mesmo no fim, é "viu uma abelha voar da Cidade Verde." Depois de tanto tempo, seria incapaz de explicar porque destaquei esta frase, mas esta abelha é logo em seguida castigada e arrastada pela chuva, como folha. O fim do texto traz várias mortes, a da abelha é só a última, na derradeira frase, a fechar o texto. A fechar a vida.

Há filme, de 1972, que não vi. Fica um excerto retirado do youtube.

1 comentário:

Célia disse...

CARLA! Fiz uma análise muito parecida a esse livro. Gostei muito, muito intenso, muito humano. Grande escritor!