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quinta-feira, 24 de julho de 2014

o noivo

(a propósito de And the Bridegroom, de Lucian Freud)


Lucian Freud, And the Bridegroom, 1993
Ela diz-lhe que sim
depois de um duchesse e um café amargo
ele não lhe toma a mão
para descer a rua
mas como antigamente o cotovelo
entram pela porta dos fundos
ele nota
que ela já não hesita
persegue pelas escadas esconsas
a magreza das canelas
a largura das ancas
um prazer prometido
entre as mãos
recebe-o o cheiro a solvente
as telas grandes
a agigantar o espaço
sob as janelas
o sommier coberto à toa num canto
e o vazio
o suficiente para os arroubos
dos corpos de carne
e de tinta
Despe-a e deita-a
recolhe na memória
a magreza pálida na palidez do lençol
a nudez a cor a forma
são o seu ofício e o seu prazer
afasta-lhe os joelhos
ela deixa-se investir assim
nos gestos
de um amor carnal e ruidoso
quase demorado
e depois na saciedade
ele traz já no sono a imagem
do primeiro amor da falsa noiva
da curva e da linha
da anca ao pé
do falo em repouso
da perna levantada grossa e morena
do noivo a fingir

4 comentários:

António disse...

Os homens não amam assim. Não são assim. Porque os homens amam.

Carla M. Soares disse...

Os homens amam, claro, de muitas maneiras. Alguns de outras formas, outros assim.O poema é inspirado no quadro, que a mim me trouxe esta forma assim de amar no corpo da mulher formas e cores da pintura que há de ser.

redonda disse...

Cheguei aqui pelo link no blog
"rabiscos, rascunhos e limitada", gostei muito do que li aqui e vou tornar-me seguidora.
Gábi

Carla M. Soares disse...

Obrigada, fico contente que tenha gostado! :)