Páginas

domingo, 29 de junho de 2014

The Bell Jar - Sylvia Plath


A loucura é uma ideia quase apetecível. Não a que vê aranhas aos cantos e grita dentro da cabeça em vozes alternadas, mas a outra, a que se passeia pela rua de pijama, nua até, insultando a passarada, que sem problema nenhum reorganiza o sentido das imagens, das palavras, só porque sim, porque se esqueceu de que há um mundo com regras fora do seu próprio universo. Existe nessa algo de egoísta e libertador, de centro do corpo, de umbigo.

Não precisamos dela para viver com o nosso umbigo. O nosso umbigo sobrevive à lucidez. A maioria das vezes. Li este livro de Sylvia Plath quando ainda vivia só com ele e muito bem, e isso foi há mais de 15 anos, que é a idade da minha cria mais velha. Não me lembro de contemplar nessa época o suícidio, ou de me sentir perto de nenhum tipo de loucura. Ainda assim devorei esta descida aos infernos de uma mulher sem razão para enlouquecer, não, com todas as razões para enlouquecer, porque a loucura não é o mundo que a constroi, é a roda dentada mal colocada na engrenagem de nós mesmos. 

O livro é autobiográfico: Sylvia era bela, inteligente, culta, criativa, com um percurso de vida que apontava para o sucesso. Começou a escrever em criança. Perdeu o pai. Tentou suicidar-se pela primeira vez na adolescência. Sobreviveram-na, cresceu, formou-se, escreveu poesia, publicou, casou-se com o poeta Ted Hughes, teve com ele dois filhos, divorciou-se, escreveu mais, escreveu bem. Escreveu muito bem. Nunca se livrou sabe-se lá de que fantasmas. Cedeu à sua forma própria de loucura, voltou-se para o umbigo e matou-se com gás aos trinta anos. Diz ela em poema críptico que uma vez em cada década tentou. Foi bem sucedida, afinal, à terceira. Uma mulher de sucesso, se esse era o objectivo. Ainda era bela, inteligente, culta, criativa.    



Edge

by Sylvia Plath
The woman is perfected.   
Her dead

Body wears the smile of accomplishment,   
The illusion of a Greek necessity

Flows in the scrolls of her toga,   
Her bare

Feet seem to be saying:
We have come so far, it is over.


Each dead child coiled, a white serpent,   
One at each little


Pitcher of milk, now empty.   
She has folded


Them back into her body as petals   
Of a rose close when the garden


Stiffens and odors bleed
From the sweet, deep throats of the night flower.


The moon has nothing to be sad about,   
Staring from her hood of bone.


She is used to this sort of thing.
Her blacks crackle and drag.
Sylvia Plath, “Edge” from Collected Poems. Copyright © 1960, 1965, 1971, 1981 by the Estate of Sylvia Plath. 
in http://www.poetryfoundation.org/

Sem comentários: