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segunda-feira, 23 de junho de 2014

daqui a pouco não tenho ideias

Esta noite não faço nada, não escrevo, não leio, não vejo um filme, não me movo, não falo, não como, não bebo, não ando, não fodo, talvez nem durma. Não sinto. E não penso. Será a primeira coisa a ir-se, daqui a minutos cesso todo o pensamento. 

Suponho que não fazer nada seja em si mesmo fazer alguma coisa, uma declaração letárgica de protesto. O protesto do nada. Pois esta noite protesto. Gosto da ideia, mas daqui a pouco também não tenho ideias. Nem opiniões, nem impressões. Serei revolucionária em protesto numa esquina do sofá, vegetando, em resistência passiva, Ghandi pálida sem carta de intenções. Só não me sento no chão e espero, fico aqui, aqui estou bem. 

Este é o meu último acto antes de tornar-me contestária e inexistir. Apreciem-no, estudem-no, assim se cria um mito. Eu sou o mito do nada fazer. 

Se furar o protesto mudo-me para a cama. 

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