Páginas

quinta-feira, 5 de junho de 2014

a razão

desce as escadas em saltos
incertos
traz o pequeno nódulo
mesmo no centro do peito
às vezes
não a deixa respirar
observa o rio
escuro
nota como ondula
apetece-lhe
capturar na objectiva
o seu hesitar aquoso e sujo
não trouxe a câmara
anda assim
a memória num caco
senta-se num banquinho de pedra
e espera
nalgum momento há-de sair das águas
alguma razão

e se não vier nessa manhã
cinzenta
ela regressará no dia seguinte
com outra roupa
as mesmas linhas desbravadas
no rosto
as mesmas mãos que tremem
o mesmo esquecimento
nem tudo se esquece há coisas
que permanecem
um palco um tutu o movimento
a perna estendida no limite
o arco das costas
a curva rígida do braço
tão suave o sangue
nas pontas feridas dos dedos
dos pés
orgulhosos altivos

espera
e entretanto
o sol romperá as nuvens
e se não houver razão
na água
haverá na luz
quando se for embora
nesse dia
estará feliz
ou ao menos consolada


Sem comentários: