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terça-feira, 20 de maio de 2014

Le Plaisir du Texte - Barthes e o pouco que ficou


Foi talvez em 1994 e não foi voluntário. Não sei se foi em Francês nem a edição era esta, mas não importa mesmo nada.

Sentava-me com outras numa sala qualquer do Pavilhão Novo (que era velho) na Faculdade de Letras de Lisboa antes dos acrescentos e da bela Biblioteca, no último ano de um curso que não me fez tão feliz como esperava. Pagode  houve pouco por ali, contrariedade muita. Na verdade, assim à distância, sei que devia ter trabalhado mais e feito mais por mim, que tinha para dar, não dei e me arrependo. 

Sentava-me depois do almoço, com um sono pós-deglutição que ainda me persegue, para fazer uma Teoria da Literatura, com uma perna às costas sem saber como, quando só as cadeiras "inglesas" me seduziam.

A cadeira deixou-me apenas duas coisas: 

A primeira, que há "ismos" que não me aderem à memória, Construtivismos e outros. Não adianta. São rótulos, não importam.

A segunda ficou-me, com justiça ou não, deste Barthes e da descoberta de Herberto Helder. Resumo o irresumivel (inventei?): A literatura faz-se não das palavras, mas da infíma respiração entre elas. Do momento de suspensão, do silêncio que escorrega de uma para outra, antes de se encher de letras. Como fendas nas rochas áridas em que plantas insistem em crescer... Uma coisa assim, metafórica ou nem por isso. Ficou-me afinal que nem tudo está no que se diz. Ou quase nada. Nas entrelinhas, onde está o leitor com toda a sua bagagem, reside o prazer da leitura. Ou a dor. Depende de quem lê. 

Se o tempo deformou a minha leitura deste texto, se não é nada disto, não me rompam a ilusão. É o que gosto de recordar e levar para a leitura e a escrita.

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