Páginas

terça-feira, 27 de maio de 2014

lâminas

 mesa longa com flores
amarelas desta vez
e garrafas de plástico transparente
sobre um palco elevado
o auditório cheio
para ouvi-los aos três
a divagar
fitou a plateia
a vontade apertada
sem saída
deitou um olhar sobre a multidão
olhar pequeno de medo
sem razão
sibilou-lhe nos ouvidos
a voz familiar
encontra um pé com bússola
suspensa entre cá e lá
não tens fôlego nem razão
fez como sabia fazer
debitou o discurso ensaiado
sem vontade
nenhuma hesitação
falou bem
respondeu melhor
falaram todos
no fim aceitaram o aplauso
no palco vazio
trocaram palavras
e apertos de mão firmes
de pasta na mão saiu
encontrou o carro
no estacionamento às escuras
murmurou a oração
de palavras tortas
sem norte
soltou o ar que a sufocava
doeu-lhe o ar que saiu
com a consistência de lâminas
feriam-na o corpo
e o futuro




Sem comentários: