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quinta-feira, 8 de maio de 2014

europeia e urbana

Quebra o silêncio um fremer suspeito
ritmado como o bater de pés na terra,
entra-me sem aviso por um poro distraído
segue de capilares para veias e artérias
no sentido oposto ao da circulação.
Penso nele como se fosse o cheiro do lugar
transformado em imagem de televisão,
morte e diamantes e a filha do presidente
da terra onde não lembro ter nascido.
De lá pouco mais trago do que um nome,
só um triciclo em vaga memória de criança
um muro rosa uma cadela abandonada
na pressa angustiada de abandonar a vida,
salvar a pele para viver outra mais fria.
As lágrimas se as houve não as lembro,
as que houve era pequena para vê-las.
Não guardo cores sons formas ou amor
nem conservo o perfume do deserto
nesta pele pálida europeia e urbana,
nada em mim denúncia a terra mãe.
Mas a vibração da música acontece-me
e então no ventre no balouçar das ancas
no arrastar do corpo no calor sou africana.












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