Páginas

terça-feira, 20 de maio de 2014

Contador de histórias

O corpo era velho
e já sem força.
Os braços salpicados dessas sardas
que deixam contar os anos
um a um.
Aos olhos pálidos faltava a luz,
à voz firmeza.
Mas era o homem das histórias
e das moedas
em troca do encantamento.
Era o contador
as princesas enfeitiçadas,
das fontes mágicas,
dos cavaleiros imaginários e seus cavalos,
das águias de duas cabeças
e dos gigantes.
Queria trazê-lo como herói
pelo tempo fora mas
ficou algures no tempo num sofá de pele
ao sol de uma marquise
no Outono.
As minhas mãos demasiado jovens
não sabiam resgatá-lo
de uma vida ainda curta
para a morte.
Era folha e não tronco e caiu cedo.
Voltei o rosto para o sol ilusório
da juventude,
deixei para trás o melhor
dos gestos de infância.
Fiz-me mulher
o rosto é o das fotos
a voz diluiu-se.
Mas trago no peito um cofre
de histórias.


Sem comentários: