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sábado, 5 de abril de 2014

Em ensaios... sim, talvez dê romance

Excerto... zinho. Nem nome tem a coisa.



O que lhe dava prazer eram os olhos. Quando os arrancava assim abertos, arregalados de medo, eram como se sacasse dois pedaços de céu só para si. Só lhe agradavam os azuis, terra e capim verde tinha muito ao alcance da mão. Hilário não saberia pô-lo em palavras, mas quando os enfiava na bolsa e a empapavam de sangue, era como se guardasse um bocado da abóboda. Sem palavras, só a felicidade. O que gostava era que gritassem menos.
Olhou para a velha no chão. Era gorda e tinha guinchado um bocado, mais no primeiro olho do que no segundo... Se calhar devia ter-lhe dado uma pancada no cachaço primeiro, mas isso às vezes fazia os olhos vermelhos e ele gostava de guardá-los limpinhos. Olhou para ela, indeciso. Estava calada há já um bocado, se calhar estava morta. Tocou‑lhe com a ponta do dedo grande do pé e ela não se mexeu. Cuspiu para o lado, e limpou a ponta do pé na barriga da outra perna com nojo. Não gostava de matar ninguém, não gostava nem desgostava, tanto lhe fazia, se era preciso para os filhos da mãe dos brancos deixarem a terra, lixava-os todos. Só as velhas é que o enervavam, tinham as peles moles e vincos e davam-lhe vómitos às vezes. Se esta não tivesse ainda os olhos brilhantes, era capaz de a ter deixado para trás e outro que viesse fazer o que quisesse. Uns gostavam de as foder primeiro, se tinham buraco era para lá enfiar o pau. Ele era mais esquisito, só gostava das novas. Arreganhou os dentes, lembrando-se de uma cabrita que tentara fugir-lhe na véspera. Tinha-lhe dado com força, a fazê-la gritar que era um gozo, e depois ainda tinha servido para o Canas e o João, antes do Cubano os mandar largá-la e lhe cortar as goelas.

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