domina a largueza comanda o olhar
diminutos os homens que aos seus pés se sentam
no corpo na alma na vontade de olhar
diminutos os homens que aos seus pés se sentam
no corpo na alma na vontade de olhar
à esquerda divinas cúpulas gémeas ruas gémeas
à direita o arco e a igreja onde se promete
o mestre ansiado do chiaro-escuro,
mas é domingo e eu espero
mas é domingo e eu espero
na mesa à beira da praça, e respiro cansada
movimento e vida e sol na pele
por momentos estou em todo o lado
movimento e vida e sol na pele
por momentos estou em todo o lado
o que vejo é o homem, distrai-me
do sabor do café do passar incessante
do ruído de conversas em babel infinito
do ruído de conversas em babel infinito
rosto largo anguloso tisnado do sol
olhos estreitos em óculos de massa
magro, quase demasiado, ele aguarda
e eu olhando adivinho-lhe na postura uma certa arte,
a ligeira paranóia impaciente do poeta
a acidez na curva da boca o desgrado inerte
de quem suspende sobre a folha a ponta do lápis
e aguarda pousado sobre o fumo do cigarro
a palavra que não chega nunca chega
a palavra que não chega nunca chega
mas então ela retorna pesada mal vestida
senta-se comentando talvez o serviço
senta-se comentando talvez o serviço
morre o escritor no rasgar de um sorriso
transmuta-se o rosto em algo morno e simples
o cigarro ainda pende mas já não significa
o cigarro ainda pende mas já não significa
eu desvio o olhar desapontada e noto
o sabor do café o lápis na mão, a escrita afinal minha
noto o sol ardente o fremer do Popolo,
lembro o chiaro-escuro ao terminar da missa
lembro o chiaro-escuro ao terminar da missa
o obelisco é belo no meu regresso à pele
E a turista...
foto de 13 de abril de 2014, Roma |
Foi-me recomendado (obrigada, Cristina) que fosse espreitar os Caravaggios em Sta Maria del Popolo, na Piazza com e mesmo nome. A volta foi longa, com passagem na inacreditável Fontana di Trevi - sim, a praça é insignificante, está apinhada de gente, mas nada disso reduz a dimensão da fonte em si, que é belíssima e, assim entalada, parece crescer. Passagem também na menos interessante Piazza de Spagna, subida penosa e depois encantada à Trinitá del Monti e avanço, pairando sobre a cidade, pela Villa Medici até se estar sobre o Popolo - depois é descer. É longo, longuíssimo o passeio, e doloroso, mas belo. A dor nos pés, nas pernas, por toda a parte, está inerentes a estas férias "de cidade", onde há sempre muito para ver e o melhor é andar a pé. Nem vale a pena referir, esquece-se num instante e fica a maravilha.
foto de 13 de abril de 2014, Roma, escafandro de Da Vinci |
Ao Domingo há missa, e enquanto há missa não há visitas. Esperei muito tempo, passeando-me pela largueza do Popolo ao calor, tomei um café numa esplanada, visitei uma pequena exposição de reproduções das maquinetas de Da Vinci que muito me divertiu (continuo a considerá-lo a mais curiosa e genial mente da História), comi um gelado delicioso, entrei finalmente em Sta Maria... e mal vi os Caravaggios. Um padre permitiu-nos uns cinco minutos antes de começar a varrer-nos a todos de dentro da igreja, "uscite, prego, é chiusa", ainda eu admirava a primeira das capelinhas. Duas ou três fotos apressadas, a cumprir uma promessa, e saímos. Não tive pena. O Popolo é muito bonito.
Depois foi descer a Via del Corso, onde fui surpreendida por pelo menos duas basílicas de tirar a respiração, com obras maravilhosas - e numa delas, a Igreja Francesa de S.Luigi dei Francesi, acabei por ter o meu Caravaggio. Não percebi se a rua estava fechada ao trânsito por ser Domingo ou se, como em toda a Roma, peões e condutores se ignoram mutuamente e fazem o que lhes apetece, ignorando passadeiras e até semáforos. Sont fous, ses romains! São mesmo. Pelo menos na estrada.
Tal foi a volta que acabou na Piazza Navona...
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