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quinta-feira, 17 de abril de 2014

De Roma, com amor (1)

(Primeiro a escritora. Só no fim escreve a turista.) 

Colosseum
foto de 12 de Abril de 2014

talvez seja o sangue milenar
a tingir a pedra labiríntica
de ferrugem e musgo
na curva interrompida e gasta
da grande besta
quase se escuta o rugido, ouve-o, ouve-o,
a morrer nos intervalos nos buracos
no chão raspado de muitos pés
nos pilares erguidos
contra o rolar dos milénios
ouve o grito do gladiador a fender o tempo
a espada a rede o maço
suspensa no ilusório milímetro
antes do dedo mindinho
do terceiro de oito japoneses inclinados
sobre a geometria incerta
do subterrâneo
detém-se insuspeitada a lâmina
junto à rótula do alemão vermelhusco
sentado no lugar de César
sentindo-se César no milénio novo
espanta-se o olho ancião da fera
vê-a ali, não vês,
imagina ferro de grade e bicho atrás
ferem-no um milhão de flashes
confundem-se os fantasmas de outras eras
babel nas colunas incompletas
do gigante morto vivo morto
como Ozymandias


Nota de turista igual aos outros: 

foto de 12 de Abril de 2014
Esta parte da cidade foi vista no primeiro dia, saindo cedo e caminhando. Tudo se pode fazer a pé em Roma. Pode e deve, porque em cada recanto há qualquer coisa para ver. Amantes de arte (eu), estais em casa, até as paredes cheiram a arte em Roma. A arte e a pombos, em certas zonas o odor é igual ao de Lisboa no Chiado e na Baixa...

O Coliseu é, claro, um dos inevitáveis , mas tudo o que o rodeia é igualmente antigo e impressionante. A coluna de Trajano levanta-se orgulhosa, mas a história inscrita em fascinante baixo relevo está, infelizmente, longe demais para se "ler". À volta, igrejas, o antigo mercado medieval, e dali ao Coliseu e para lá dele, as ruínas dos banhos públicos romanos e outras estendem-se, com parcelas ainda espantosamente de pé. Explicou-nos um romano em bom inglês (não, o inglês dos italianos em geral não é bom), que tudo pertencia a Nero, eram tudo palácio dele. Verdade ou não, não sei. A fila para entrar no Coliseu é imensa, como podem imaginar, e há guias que oferecem, uns em inglês, outros em francês ou em espanhol, uma forma de fugir a uma hora ou mais na fila. Lá dentro, muita gente, sempre muita gente em todo o lado. E o Coliseu. Antigo. Maravilhoso, para quem é capaz ou gosta de respirar outro tempo. Para quem não gosta, são pedras velhas. Muito velhas. 

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