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sexta-feira, 11 de abril de 2014

Braços de mulher

Lembrou-me a Cristina Drios o quanto gosto de Caravaggio... Aqui fica, pouca coisa, a partir de Judite decapitando Holofernes. Enjoy, Cristina.


sacode a anca em sedução de um povo inteiro
sacrifício de corpo forte e vontade,
tomba o general na cama entre os prazeres do vinho
e o desejo das pernas de Judite
os braços de Judite
tomba o general desacordado em chiaro-escuro
palidez da pele contra o negro fundo
em agressão de perfeita nitídez
de ruga intenção e medo
estende Judite as mãos de lâmina franzido o rosto belo
na execução do gesto
Judite decapitando Holofernes, Caravaggio, 1598-99
"dá-me força, Senhor, dá-me força"
cabelos na mão ignora o grito
ignora o pavor dele a boca aberta
o dela silencioso o horror do momento
contorce rasga separa pelo pescoço
separa da vida salva-se salva o povo
salva a velha de nariz afilado
que espreita em ânsias de morte do invasor
morre em panejamentos vermelhos ao fundo
estranha paz na violência do assassinato
morre com detalhe é bela a morte
da inocência de Judite
é bela a morte de Holofernes





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