Um pouquinho. Tão pouquinho. Da parte 2, O Vento. 1943.
Imaginava-o exatamente como nos filmes, alto, elegante, charmoso, em intrigas secretas de filme noir nas mais luxuosas casas particulares na linha do Estoril, onde a aristocracia europeia se instalara por esses dias. Via-o vestindo uma segunda pele, conspirando nas embaixadas, nos restaurantes e hotéis onde era assíduo, o Avenida, o Tivoli, o Palácio, lugares que João só começara a frequentar depois de o conhecer. Imaginava-o no Metrópolis, hotel onde morava e de que Carmo afinal não sabia nadinha de nada… Em cafés, transportes, repartições públicas, capaz de despir-se da sua distinção para poder misturar-se e passar despercebido. Traria uma pistola no bolso do casaco? Uma navalha? Transportaria documentos, ajudaria refugiados e ilegais a escapar-se? Ou, ao contrário, entregá-los-ia nas mãos dos seus carrascos nazis?
Quantos terei já conhecido sem saber, refugiados ou algozes?, perguntava-se, de vez em quando. Desde que se tinham tornado amigos, há quase dois anos, Dekel apresentara-lhe tanta gente, a maioria estrangeiros. Devia haver muitos ilegais, escondidos mesmo à vista, e outros ainda que, sendo tão legais como Dekel, tinham as suas atividades… particulares. Carmo está disposta a entregar o coração a esse homem, quase sem o conhecer, sem saber nada sobre ele, e, se as minhas suspeitas estiverem certas, quem sabe até a colocar-se em risco. Não posso permitir.
– João? – chamou ela, estranhando o seu silêncio. – Podes ir-te embora, por favor?
O rapaz sacudiu a cabeça, surpreendido com as conjeturas que o haviam afastado momentaneamente da sua intenção.
– Nem penses – teimou. – Carmo, e se o Dekel não for bem quem tu pensas? Se tiver segredos?
Sentiu-a suspender a respiração. Olhou-o, desconfiada.
– Quais segredos? Sabes de alguma coisa?
Imaginava-o exatamente como nos filmes, alto, elegante, charmoso, em intrigas secretas de filme noir nas mais luxuosas casas particulares na linha do Estoril, onde a aristocracia europeia se instalara por esses dias. Via-o vestindo uma segunda pele, conspirando nas embaixadas, nos restaurantes e hotéis onde era assíduo, o Avenida, o Tivoli, o Palácio, lugares que João só começara a frequentar depois de o conhecer. Imaginava-o no Metrópolis, hotel onde morava e de que Carmo afinal não sabia nadinha de nada… Em cafés, transportes, repartições públicas, capaz de despir-se da sua distinção para poder misturar-se e passar despercebido. Traria uma pistola no bolso do casaco? Uma navalha? Transportaria documentos, ajudaria refugiados e ilegais a escapar-se? Ou, ao contrário, entregá-los-ia nas mãos dos seus carrascos nazis?
Quantos terei já conhecido sem saber, refugiados ou algozes?, perguntava-se, de vez em quando. Desde que se tinham tornado amigos, há quase dois anos, Dekel apresentara-lhe tanta gente, a maioria estrangeiros. Devia haver muitos ilegais, escondidos mesmo à vista, e outros ainda que, sendo tão legais como Dekel, tinham as suas atividades… particulares. Carmo está disposta a entregar o coração a esse homem, quase sem o conhecer, sem saber nada sobre ele, e, se as minhas suspeitas estiverem certas, quem sabe até a colocar-se em risco. Não posso permitir.
– João? – chamou ela, estranhando o seu silêncio. – Podes ir-te embora, por favor?
O rapaz sacudiu a cabeça, surpreendido com as conjeturas que o haviam afastado momentaneamente da sua intenção.
– Nem penses – teimou. – Carmo, e se o Dekel não for bem quem tu pensas? Se tiver segredos?
Sentiu-a suspender a respiração. Olhou-o, desconfiada.
– Quais segredos? Sabes de alguma coisa?
1 comentário:
Também gostei, e continuo a querer mais :-)
Parabéns, Carla, pela escrita tão agradável, cativante!
MC
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