Páginas

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Perséfone bela nas mãos das trevas

Deixaste na terra as colheitas secas
pelo frio marmóreo do inverno eterno
rainha das sombras tantos dias
O Rapto de Proserpina, Bernini, 1621-22
(galeria Borghese, Roma)
na pedra presa assim no teu extâse
os dedos de amante na carne doce
chamam o olhar só depois se vê
a expressão no rosto o horror o deleite 
Perséfone bela nas mãos das trevas
gesto de amor e morte de perfeito desespero.
Esquecido o narciso que colhia na terra fresca
esqueceu-o o moldador das mãos do deus
de dedos másculos em sensual aperto.
Na surpresa do assalto ela resiste
estende o braço recusa o rosto
finge a dor que decerto não sente
rendida já ao coração que a vai trair. 
Hades rei de sombras em amor a leva
ambos pedra ambos belos já perdidos
na rebelião dos gestos parados
movimento que se congelou no tempo
paixão em meio tempo terra inferno
a gerar frios de inverno ardores de verão
outros de sempre que se pressentem na mudez
da pedra fria esculpida por mão quente.




Sem comentários: