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terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Vai uma menina


George Bellows, Anne in White, 1920
Tinha saia de roda como antigamente e gola de babado e se se olhasse para ela com atenção até os cabelos eram de ontem. Chegou-se perto na distração da mãe tocou com um dedo esticado e velho na bochecha parada do homem morto. O homem olhou para ela sem nenhum olhar, e ela fixou-lhe a expressão. Era o primeiro homem casca que via de borco no chão. A mãe puxou-a pelo braço quando a viu de dedo colado ao recitador de protestos e arrastou-a dali, pensando que certo estava o pai, protestos daqueles eram demasiado grandes para uma menina pequena.
Nessa noite dormiu a menina um sono pesado de cansaço e gente. Muito povoado de pernas e vozes que se erguiam num desconjuntado de muitas zangas. À frente seguia um homem que gritava mais alto e que depois sabia palavras de palco mas daí a pouco já não seguiria pelo seu pé para lado nenhum. A menina não entendia de pijama o que não entendera em gola de babado. Via os olhos zangados e os olhos vazios e sabia que ele se esvaziara de raiva. Adiantara com fúria o relógio que no peito fazia tique-taque-tique-taque, e esgotara os minutos. Pensou isto com a mão medindo o seu próprio mecanismo sobre um elefante azul no pijama.

A manhã ainda não trouxera o consolo do sol e ela procurou o sol mais pequeno que a mãe trazia no corpo. Meteu-se devagar entre os lençois dos pais e suspirou. A raiva esvaziava os olhos. A raiva esvaziava os olhos.