George Bellows, Anne in White, 1920 |
Tinha saia de roda como antigamente e gola de babado e
se se olhasse para ela com atenção até os cabelos eram de ontem. Chegou-se
perto na distração da mãe tocou com um dedo esticado e velho na bochecha parada
do homem morto. O homem olhou para ela sem nenhum olhar, e ela fixou-lhe a expressão.
Era o primeiro homem casca que via de borco no chão. A mãe puxou-a pelo braço
quando a viu de dedo colado ao recitador de protestos e arrastou-a dali,
pensando que certo estava o pai, protestos daqueles eram demasiado grandes para
uma menina pequena.
Nessa noite dormiu a menina um sono pesado de cansaço
e gente. Muito povoado de pernas e vozes que se erguiam num desconjuntado de
muitas zangas. À frente seguia um homem que gritava mais alto e que depois
sabia palavras de palco mas daí a pouco já não seguiria pelo seu pé para lado
nenhum. A menina não entendia de pijama o que não entendera em gola de babado.
Via os olhos zangados e os olhos vazios e sabia que ele se esvaziara de raiva. Adiantara
com fúria o relógio que no peito fazia tique-taque-tique-taque, e esgotara os
minutos. Pensou isto com a mão medindo o seu próprio mecanismo sobre um
elefante azul no pijama.
A manhã ainda não trouxera o consolo do sol e ela
procurou o sol mais pequeno que a mãe trazia no corpo. Meteu-se devagar entre
os lençois dos pais e suspirou. A raiva esvaziava os olhos. A raiva esvaziava
os olhos.
1 comentário:
Lindo e triste.
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