Páginas

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Um bilhete


ouve. anda cá.  

diz-me uma palavra. dessas que arrancam raízes, conheces alguma?

dá-me uma palavra, só uma, que seja uma janela aberta. uma ponte de corda sobre uma garganta larga. uma mão aberta na anca. oferece-ma baixinho, ao ouvido aqui mesmo encostado ao meu pescoço, a boca na pele. agora, se a tiveres, que acordei hoje sem nenhuma e preciso de respirar.

depois podemos ficar os dois, queres? calados a olhar para as paisagens que ela esconde, cada um a sua, os dois a mesma, não importa. podemos escondê-la num canto qualquer onde mais ninguém a encontre. fingir que se perdeu. estender o tempo a procurá-la um no outro. ou podes deixar-me só com ela, essa palavra, que eu aconchego-a e bastamo-nos. 

sabes uma? Conta-ma.


Sem comentários: