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sábado, 25 de janeiro de 2014

músculo, veia, nervo e tudo

Largou algures malas cheias
de fotos, livros, dias, memórias
pesadas como pedras.
Despiu um chapéu
que lhe escondia o rosto,
mais adiante os sapatos, meias,
o casaco, saia, camisa.
Caminhou no fato fino
da sua pele,
gastou-o ao frio, à chuva, ao vento,
rasgou-o o sol.
Seguiu com o coração à espreita
entre a carne dos seios,
batendo feroz atrás do osso,
exposta toda por dentro,
cheia como estava,
músculo, veia, nervo e tudo,
orgãos ao ar como velas,
músculos pulsando,
movimento comendo caminho,
olhos na estrada vazia,
nenhum destino.
Esgotou-a assim o trilho duro
até ser noite
até serem muitas noites nessa estrada
passo a passo mais perto
de lado nenhum
nos olhos menos gravuras
de outros tempos,
peso levantado devagar,
sangue esgotando-se na veia,
mais ar no peito.
Restou-se pouco mais que odre vazio,
pluma no frio do dia nascente
e sorriu, como sorriem
os que não são.
Amachucou então o nome
que não queria,
travou de súbito a mecânica das pernas
tombou no solo de terra
e abandonou a carne exausta
no alcatrão.

The Empty Road





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