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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Não me fales mais


Não quero saber que o sol nascerá azul ou a extraordinária medida deste mundo amanhã. Não quero saber que acordaram oásis nos desertos, que sobre os mares passeiam barcas prenhes de vida, que entre os prédios o homem já respira, que lhe cresceram asas e uma alma. Que nas florestas se erguem braços arbóreos em felizes preces. Não me importa. Cala-te. Sei que és de luz mas eu não sou. Para que me vens dizer das portas que te parece que se abrem de par em par? Das promessas de brisa perfumada de futuro, janelas sobre campos de amanhãs? Dos caminhos serpenteantes para lugares por sem mácula de pés.

Palavras. Palavras. Cala‑te. Mais adiante há muralhas que não vês, vomitando rochas das ameias.


Finco agora pés no chão e viro as costas. Não quero mais palavras, frágeis películas de enrolar o mundo. Nem imagens. Fecho os olhos. Estou cansada de sóis que se ocultam sob nuvens e estrelas, para nascer de madrugada e pintar o mundo de cores velhas, a escorrer das paredes como se novas fossem, que dobram as formas a iludir os olhos. Fecho os olhos. 

Deixa-me em paz.

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