Não quero saber que o sol nascerá azul ou a
extraordinária medida deste mundo amanhã. Não quero saber que acordaram oásis
nos desertos, que sobre os mares passeiam barcas prenhes de vida, que entre os
prédios o homem já respira, que lhe cresceram asas e uma alma. Que nas
florestas se erguem braços arbóreos em felizes preces. Não me importa. Cala-te.
Sei que és de luz mas eu não sou. Para que me vens dizer das portas que te
parece que se abrem de par em par? Das promessas de brisa perfumada de futuro,
janelas sobre campos de amanhãs? Dos caminhos serpenteantes para lugares por
sem mácula de pés.
Palavras. Palavras. Cala‑te.
Mais adiante há muralhas que não vês, vomitando rochas das ameias.
Finco agora pés no chão e viro as costas. Não
quero mais palavras, frágeis películas de enrolar o mundo. Nem imagens. Fecho
os olhos. Estou cansada de sóis que se ocultam sob nuvens e estrelas, para
nascer de madrugada e pintar o mundo de cores velhas, a escorrer das paredes
como se novas fossem, que dobram as formas a iludir os olhos. Fecho os olhos.
Deixa-me em paz.
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