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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

A propósito de um título (talvez) recuperado...

Por motivos que se relacionam com nomes de livros e outras coisas de que um dia destes falarei, apeteceu-me partilhar um excerto pequenino do A Chama ao Vento, nome provisório ou talvez não, do livro que vão poder ler em breve... ou talvez não. Misterioso? Confuso? Não, na verdade não.

Aqui está o excerto, todo pequenino.

"Durante os anos da minha adolescência, acreditei que talvez fossem assim todas as mulheres com uma certa idade. Mais tarde, descobri que não, que as havia vibrantes e determinadas. Que algumas dessas mulheres antigas tinham tomado as rédeas das suas casas, outras ainda as das suas vidas, contra pais e mães e maridos, contra um sistema que as empurrava para o confinamento do lar, para o cuidado dos filhos. Outras, ainda, na sua quietude, eram reais. Estavam vivas. Mas não a avó. Suspeitava que a Carmo-mulher se ocultara atrás da Carmo-esposa, da Carmo‑mãe, da Carmo-avó. Não sabia quando a escondera, se no dia em que o pai a proíbira pela primeira vez de sair sozinha ou de mostrar as pernas na praia, sabia lá se o tinha feito, ou se no dia em que dissera que sim ao meu avô. Permanecera soterrada até ao dia da sua morte. O certo era que, mesmo depois do falecimento do avô, as minhas escassas tentativas para fazê-la sair do seu jazigo prematuro se tinham provado inúteis. Talvez a mulher se tivesse ausentado de vez da concha oca que era o corpo da avó. A mulher apagara-se de dentro da avó.
A candle in the wind.
Não sabia o que seria mais triste, se calar ferozmente o tumulto interno, dia após dia, ou viver uma vida inteira de coisa nenhuma. Apagada."

(A Chama ao Vento, pág 53) 


** Vintage Photo Booth Picture ** Beautiful young woman during the 1940s.
https://www.pinterest.com/jennyholiday/vintage-photo-fun/