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domingo, 17 de novembro de 2013

Pequenos defeitos de leitora

http://www.jungleredwriters.com
Leio muito, claro. Tenho sempre um livro na mala - ou o kindle, para mim dá no mesmo - e nem me sinto bem sem ele. Fico aborrecida quando me apercebo de que saí de casa sem leitura, mesmo que saiba que não vou mesmo ter tempo para ler nadinha. 

Leio em Português e em Inglês com a mesma desenvoltura, e em francês, se for mesmo necessário. Descobri que sou capaz quando fui obrigada a ler e estudar e trabalhar as 300 e tal páginas de um livro sobre arte, em Francês, denso e difícil, numa cadeira do doutoramento, e o fiz sem grandes problemas - depois de um arranque entre protestos internos e rosnados.

E tenho, como todos os leitores, alguns pequenos defeitos. 

O primeiro deles é fugir como o diabo da cruz de leituras "densas", ou sérias, ou mais difíceis, quando estou cansada. Escolho sempre o que é fácil e divertido, mesmo que seja em inglês, e recorro alegremente aos meus guilty pleasures. Infelizmente, passo 2/3 da minha vida cansada, que é o que acontece quando se lida com vinte e muitos miúdos de cada vez, várias vezes por dia, e ainda os dois cá de casa. Logo, leio muita literatura de entretenimento. Tem mal? Evidentemente que não. Mas muitos escritores e outros leitores olhar-me-iam de lado... olha, ali está. Já está. A olhar-me de lado, não é? Paciência. Cansaço é cansaço, o meu é terrível, até ao osso, e gera por vezes uma terrível falta de paciência para o mundo em geral, mais ainda para debates negros, internos ou não, sobre a vida e o homem, com o desfilar de desgraça, tristeza, cinismo e desesperança nas páginas dos livros. Somos insignificantes e sem importância nenhuma, cada um grão de poeira que se acha estrela no firmamento. Ponto final. Amanhã é outro dia e chega sempre. Ponto final. Quando nos acabamos aqui, ainda cá ficamos, a nossa energia (pesará 21 gramas?) espalhada por aí. E pronto. Tragam-me alegria nas letras. 

O segundo é não ser capaz de "entrar" numa história, se não puder ler muito de uma assentada. Um bocadinho aqui, um bocadinho ali, mesmo que me dê prazer sempre que leio, impede-me de criar empatia com as personagens, com a escrita, com a história. Se ando com um livro durante semanas, posso adorá-lo intelectualmente, mas fica sempre um pouco aquém na ligação emocional, no prazer da leitura. Este ponto está muito relacionado com o anterior - e é um dos motivos porque costumo guardar as leituras mais densas para os momentos em que tenho mais tempo ou estou mais descansada, para poder ler bastante de uma vez. 

O terceiro, e último que aqui refiro, é uma mania de que o kindle ainda me há-de curar: ir espreitar o fim, sobretudo se me apetece um tipo específico de história e tenho dúvidas quanto ao livro. Ou se não conheço o autor e não sei bem se é dos de fim consolador, agridoce, cínico, e estou em fase de... uma dessas coisas. Sim, eu sei, já estão a olhar para mim pelo canto do olho outra vez, mas afinal que leitora é esta e, sobretudo, que escritora?? Em minha defesa... não, defesa nenhuma, é assim, pronto. Cada um lê como quer, felizmente nisto ainda há liberdade. Não o faço sempre - no kindle nunca, não é possível, nem o faço quando já decidi que, seja o final qual for, vou ler o livro. Talvez eu simplesmente não goste de surpresas, os plot twists são giros, num policial / thriller dão jeito, mas na verdade raramente me apanham de surpresa e, noutros géneros, não são sempre essenciais para mim. Nem sempre preciso de surpresa... será isso?

Tudo isto faz de mim pior leitora? Não acho, embora os puristas da leitura possam discordar. Esses, porém, já estão irritados comigo desde as primeiras linhas, quando referi o kindle, pior ficaram quando falei nas leituras densas e por agora já perderam todo o respeito por mim. Estou a sorrir? Estou. Adoro ler. Saramago está ali à minha espera, ainda hoje leio mais um capítulo ou dois. Mas primeiro vamos à Besta, que faltam só 30 páginas para acabar a revisão deste texto... de puro entretenimento. 

3 comentários:

Cristina Torrão disse...

É pena haver tanto preconceito contra literatura de entretenimento. Um livro só é bom, quando nos ajuda a crescer intelectualmente? E onde fica o prazer pelo prazer? O nosso cérebro também precisa de pausas ;)

Olinda Gil disse...

Só diz mal quem não sabe o que é andar cansado.

Cristina Torrão disse...

Ou quem não sabe apreciar a vida, Olinda ;)