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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Next!

Terminada a revisão d'O Olhar da Besta, devolvido à gaveta digital, como deve ser, é altura de dar início a nova revisão, esta mais atenta e sobretudo mais trabalhosa.

Esta vai exigir, não só a verificação da verosimilhança histórica, por ser tratar de um romance de época, mas também que tome muitas notas e elabore uma cronologia e esquema de relações, porque deste livro, nascerão mais dois, talvez. 

Chama-se, por ora, O Cavalheiro Inglês (sim, já ouviram falar dele), não tem capa nem sinopse, mas tem já alguma leitura beta e algumas opiniões favoráveis. A minha, que é a mais importante, é muito favorável - gosto muito deste livro, porque me diverti muito mais a escrevê-lo do que é habitual. 

Um cherinho apenas, os primeiros parágrafos - os primeiros que hão de ser revistos assim que tenha tempo! 



English bourgeois gentleman
(3m http://www.dreamstime.com)
Viajava há longos minutos pelas páginas do seu livro. Virava-as devagar, indolente, embalada pela trama familiar e pela luz cálida da tarde. O sol de Inverno atravessava as vidraças escrupulosamente limpas e, sem a interferência dos reposteiros pesados que as ladeavam, refletia-se em muitas cores pela salinha demasiado cheia, nos vidros coloridos, brocados e cetins. Ela via-os, mas não os via realmente, cenário vago que eram para a sua ausência temporária numa aldeia distante e fresca do Alto Minho, entre folhagem verdejante, pedra granítica, tradições antigas e amores atribulados. Sorria, como só se sorri perante as páginas de um livro, deixando-se entusiasmar com um encontro fortuito entre Jorge e Berta, de que podia antecipar o sabor porque...
- Morreu o Lopo Vaz.
Sofia levantou os olhos do livro, sobressaltada. Por um instante apertou-se-lhe o coração de pavor, antes de perceber que o nome do falecido não lhe dizia nada. Não era família, nem amigo seu. Obrigou-se a regressar à realidade. Olhou para o irmão, de sobrolho franzido.
- Como?
- Morreu o Lopo Vaz de Sampaio e Melo. Diz aqui.  – O rapaz sacudiu ligeiramente as páginas do Jornal do Comércio, como se a explicação pudesse cair de lá para o seu colo. Sofia inclinou a cabeça, tentando lembrar-se de quem seria esse Lopo Vaz. Não era a primeira vez que ouvia o nome. Infelizmente, tinha sempre dificuldade em localizar nomes e apelidos, a não ser que fossem relações pessoais ou personagens dos livros que lia.
- É um amigo do pai? – acabou por perguntar.

Sebastião pousou o jornal aberto sobre a mesa, cobrindo com as páginas sujas uma variedade de caixinhas de casquinha e de prata com inscrustações de jade, e três pequenos pratos pintados que já tinham servido de providencial cinzeiro para os charutos malcheirosos do pai. Sofia conteve um sorriso. Se a mãe o tivesse visto! E se visse agora o jornal em cima das suas coisas! Espreitou a porta, esperançosa, desejando essa pequena vingança para as muitas arrelias que Sebastião lhe causava. Mas a porta não se abriu e Sofia devolveu o olhar ao jornal. A luz intensa dessa manhã do fim do Inverno, tão diferente da sombra eterna de Sintra, incidia sobre os altos e baixos das folhas, iluminando as letras escuras. 



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