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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Medo

Não é o medo das coisas enormes que me contorce as entranhas. Ainda não me assusta o Universo, nem penso no que está ou não está do lado de lá do véu. Não me detenho a pensar na probabilidade da doença nem na inevitabilidade da velhice. Ainda. 

O que se agiganta por ora são fantasmas, tão inúteis quanto esmagadores.

A infelicidade dos meus filhos, a sua vida, a sua saúde, agora que vão crescendo e me escapam devagar das mãos. Vem primeiro, sempre primeiro, esse medo voluntariamente adquirido, entretecido em doses de amor, tão grandes que sufocam. 

O insucesso, iminência constante em todos os aspectos da vida, que vem de saber fazer, mas nunca suficientemente bem. Sempre ali, além das forças, àquem do extraordinário. Ou do bom. Vem de ganhar batalhas que se provam sempre temporárias, e perder outras permanentemente.

A forma como o tempo se esgota nas coisas que temos que fazer, e pouco sobra para as que desejamos fazer.

A impaciência com o presente, quando o futuro não existe e o presente é tudo o que temos. O passado empurra. A necessidade esmaga. A obrigação verga.

A ausência anunciada de desejo. Desejo em geral, desejo de realizar, desejo de insistir, desejo de permanecer.

São estas coisas invisíveis que, se deixo, me pesam como pedras nas pernas. Percebo que fui moldada no medo. Vivo no medo, e é o medo de não chegar a existir, de ser nada, que me conduz. Forma cansativa de vida, esta.

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