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sábado, 12 de outubro de 2013

Cada um como cada qual!

Em função de um comentário de uma leitora que pressupôs que eu pretendia atacar o escritor José Rodrigues dos Santos, que já li e respeito, como respeito os restantes escritores, decidi retirar o nome do autor do título (sim, estava lá) e acrescentar este parágrafo, apenas para fazer notar que NÃO É um ataque nem uma ofensa. É uma reflexão, à qual tenho todo o direito!

Ontem ouvi o José Rodrigues dos Santos, no Cinco para a Meia Noite, a dizer que não há escritores que não precisem de sossego e silêncio para a escrita - ou coisa parecida - que para a pesquisa pode haver alguma confusão, sim senhor, mas para a escrita é preciso sossego.

Fiquei constrangida. Se for verdade, nunca chego a escritora! 

Olha para mim... não, não sou esta senhora charmosa a escrever à mão, mas estou a escrevinhar no café como ela, no computador. Vou fazê-lo pela manhã fora, com o som das maquinetas, das conversas, das entradas e saídas em pano de fundo. E é como gosto mais... Este para mim é o sound of silence ideal para a escrita, uma parede de som sem interesse, que me envolve num casulo e me ajuda a concentrar. Estou sozinha no meio das pessoas e sem mais nada para fazer senão digitar, digitar, digitar. Em casa, no suposto sossego, é mais fácil distrair-me, porque me chamam ou começa um programa na TV (o mesmo que no café nem noto) ou me apetece comer qualquer coisa, ou ir à casa de banho... Mas se preciso de silêncio, não, não chego a escritora.

Não gosto de generalizações. Nadinha mesmo. Detesto ouvir que os jovens são X, as mulheres Y, os homens Z, como se fossem uma massa amorfa e formatada de qualquer coisa. Mesmo que a maioria seja isto ou aquilo, estender a todo o grupo tem que ser uma injustiça. Ainda há pouco falei com a Ivonne, do Epifania de Letras, a propósito de uma sua generalização (de que os autores portugueses não sabem escrever), acerca da qual escreveu depois este post. Descobri que distingue até autores de escritores, sendo este último patamar muito mais difícil de alcançar... e o tal ao qual não chego, se o senhor Rodrigues dos Santos tiver razão! 

Bom, a questão é: cada um como cada qual. Não serei uma escritora famosa, talvez seja apenas, usando as designações da Ivonne, uma autora, mas escrevo, muito e há muito tempo, e não o faço em silêncio. Não preciso dele nem o acho mais produtivo. Duvido que venha a achar, mesmo que escreva a vida inteira e venha a ser "escritora", em vez de uma professora que escreve.

Nota: não sei se isso seria grande argumento para o escritor-jornalista, mas não tinhamos Harry Potter, que devolveu o gosto pela leitura a uma geração, se a autora não trabalhasse bem em cafés. 

17 comentários:

São disse...

Bom dia :)
As pessoas pegam em tudo para implicar com o José Rodrigues dos Santos, é impressionante... Parece que o homem se tornou alvo a abater :)

É assim, eu continuo a achar que ele tem razão. E a senhora acabou por dar-lhe razão. A questão não é tanto o silêncio, mas o sossego. Eu quando era solteira também escrevia muito em cafés. E porquê? Porque aquele som de fundo "não era comigo", era um som constante... Em casa havia a possibilidade de a minha mãe ou o meu pai me chamarem de repente para perguntar qualquer coisa, podia tocar o telefone (o telemóvel é pessoal e pode desligar-se, mas o telefone fixo não era só meu, portanto).

Duvido também que a senhora, ou eu, ou a J.K. Rowling ou fosse quem fosse, continuássemos "na boa" caso acontecesse algo no café que "saísse da normalidade", como uma zaragata, uma discussão mais forte...

A questão é que conseguimos nos abstrair desse som porque ele é constante, é um barulho que nos envolve, mas ao qual, ao mesmo tempo, somos alheios.

Se estivesse alguém constantemente a chamá-la, a dirigir-se a si, a fazer-lhe perguntas, continuaria tão concentrada?

Eu, por acaso também não gosto de generalizações... Sou filha de um agente da GNR (hoje já falecido) e acho que ninguém na minha situação teria crescido a gostar de generalizações... Crescemos bombardeados com a expressão "A Polícia é prepotente", "a Polícia não faz nada", como se todos os polícias fossem iguais... Portanto... Também não gosto de generalizações, mas acho que há certas coisas que são universais...

E aliás, pelo que percebi, ele respondeu isso precisamente porque o Nilton lhe disse que tinha ouvido dizer que ele conseguia escrever no meio do barulho. Ele possivelmente expressou-se um pouco mal, quis dizer que todo o escritor gosta do seu ambiente calmo, e isso, de uma forma ou de outra, e acho que é verdade, o que acontece é que a calma é relativa :)

Tenha um bom dia :)

Carla M. Soares disse...

Não me interprete mal, São , não implico nada com o José Rodrigues dos Santos, nem estou à procura de razões para isso. Apenas o ouvi dizer isso ontem à noite e fiquei a pensar nessa questão do silêncio ou do sossego para escrever e das generalizações, e continuo a achar que a cada um o seu. E também consigo trabalhar em ambientes em que sou mais solicitada, apenas não o faço com tanta calma. O José Rodrigues dos santos respondeu acerca de si próprio, mas generalizou relativamente ao silêncio. Não lhe dou razão nem deixo de dar, acho apenas que cada pessoa é uma só. Poucas coisas são universais,creio que é uma opinião a que tenho direito, tal como o JRS tem direito à sua e a São também, e evidentemente que as respeito.

Acho que nada no meu post é depreciativo relativamente ao autor, que já li, nem a ninguém, e lamento apenas que o tenha interpretado assim e que tenha sentido necessidade de responder com certa acidez. Ainda assim, respeito.

Unknown disse...

Olá Carla.
O que não faltam são indivíduos, chamemos-lhe assim, que não possuem a capacidade de se abstrair de si mesmos. Não são capazes de sequer imaginar que os outros conseguem fazer as coisas de uma forma diferente da sua e igualmente correcta.
Se isto fosse um comentário num outro idioma diria que são "full of themselves" para não os rotular com "full of crap".
No meu caso particular necessito de silêncio, seja este para ler ou para escrever. Isso não invalida que não me faça confusão alguma que para outros o barulho, o movimento, o bulício que os rodeia, seja tão importante como é para mim a paz que a ausência de tudo isso me traz.
Existem bons e maus escritores. Não me parece que a nacionalidade tenha grande influência na matéria. Por acaso da lista enumerada há uns que gosto, outrps que nem por isso, outros que não conheço e um ou outro cuja escrita me causa uma repulsa visceral (saliento, a escrita, não a pessoa).
Desconheço o que difere um escritor de um autor e estou-me nas tintas. Murakami, que agora estou a ler, escreveu "se queremos conhecer a verdadeira natureza deste mundo, o melhor é vermos as coisas do nosso ponto de vista." Talvez haja autores, escritores ou bloggers que levem esta ideia demasiado a peito e entendam que todo o mundo deve ver as coisas pelo seu próprio...
Mas vai daí eu não sou escritor, não sou autor e quase não sou blogger. Tenho um blogue e escrevo umas coisas mas não busco protagonismo com frases feitas e superficiais.
Um abraço.

Ivonne Zuzarte disse...

OMG!

Apesar de não gostar de generalizações, foi precisamente o que fiz de forma irreflectida.

E já te disse que te considero autora E escritora, embora este último demore a ser merecido, considero-te. Acho importante distinguir, pois assim todos os que escrevem seriam escritores (um pouco como as pessoas que dão explicações não são professores - podem sê-lo de formação, mas nem todos o são - ou as pessoas que ouvem os desabafos de outras não são psicólogas - mas as pessoas auto-denominam-se como tal. Talvez seja parvo o que acabei de dizer, mas, por enquanto, é o que penso).

Quanto ao que o JRS disse... não vi o programa, mas generalizou sim.

Eu, quando escrevinho, oiço música ou simplesmente oiço o burburinho da faculdade. E, às vezes, abstraio-me tanto que nem oiço nada, mesmo estando no meio do 'caos' eheh Mas lá está, não tenho ambição de chegar a escritora ou autora. Fico na minha e com as minhas ideias, ouvindo o que outros me têm para dizer. Nada mal, melhor que nada :D vou-me calar antes que me enterre mais.

P.S. Por favor, não te menosprezes. És escritora, sim. Começa a olhar-te como tal.

São disse...

Não me interprete mal a mim, Carla :)

Sim, também acho que poucas coisas são universais, muito poucas mesmo.

Desculpe se lhe dei ideia de acidez, mas a questão é que vejo sempre muito implicância com este profissional que muito admiro há muitos anos , tanto enquanto escritor, como enquanto jornalista. À mínima coisa que ele diga, caem-lhe encima.

Mas gostei de ver, e fartei-me de rir, depois quando o Nilton o obrigou a escrever com aquela confusão toda atrás... E achei piada ao facto da mulher e da filha mais nova dele estarem "mortas de riso" na plateia enquanto ele escrevia com aquela algazarra atrás toda... Até me deu ideia que já lhe tivessem feito uma parte daquelas :)

São disse...

Acho que possivelmente ele generalizou porque há mesmo essa ideia muito generalizada de que se escreve e lê melhor em silêncio. Talvez por isso, tenhamos que murmurar nas bibliotecas. Eu, por exemplo, desde que o barulho não seja comigo, podem passar bois e carroças que não me incomoda... Se for directamente comigo já é diferente. Por exemplo, se estiverem constantemente a chamar-me, a interromper-me, o caso muda de figura.

Mas agora sinto-me mal por ter feito com que a Carla mudasse o título do post. Não era minha intenção, pelo amor de Deus. Talvez tenha achado que o "senhor" ali estava com um tom provocatório, isto porque é muito comum o autor ser muito criticado à mínima coisa. Mas não era minha intenção que o título fosse mudado.

Se calhar, num ou outro momento da vida, todos nós temos tendência a generalizar, por mais que depois venhamos a reflectir e a concluir que as pessoas são diferentes :)

Carla M. Soares disse...

Se retirar o nome do título evita essa confusão - entre a intenção real e a aparente - sem dúvida que retiro. Sem problemas.

São disse...

Mas eu já percebi que a intenção não foi depreciar o autor. Reagi a quente porque sou grande admiradora do escritor em questão e incomodou-me a palavra "senhor"... E como sei que ele é muito atacado a nível literário, achei que era mais um ataque. Mandei-te um email para o endereço da netcabo que está aqui no teu perfil do blog. Espero que me desculpes :)

Ambas gostamos de ler, pelo que vejo, portanto, acho que muito mais é o que nos une que aquilo que nos separa :)

Um abraço

Cristina Torrão disse...

Acho interessante esta discussão porque eu conheço as duas versões. Tive uma fase em que conseguia escrever com ruídos à volta. Agora, não, prefiro estar sozinha, no silêncio. Será da idade? ;)

Bem, acrescento que, em casa, talvez me seja mais fácil encontrar esse silêncio do que a outras pessoas, por não ter filhos. O marido sempre compreende melhor quando digo que não quero ser interrompida nas próximas duas horas ;)

À cadelita é que é mais difícil de explicar. Está sempre ao pé de mim: ou deitada a meus pés, ou no sofá atrás de mim. Normalmente, respeita a minha atividade e só dá sinal de si, quando eu dou por terminada a escrita e me levanto. Deve ser aquele sexto sentido dos animais, entende que a "dona" está a fazer algo importante e não quer ser interrompida. Mas também se pode dar o caso de ela ouvir qualquer coisa na rua e desatar a ladrar numa quantidade de decibeis que me faz dar um salto na cadeira ;)

Helena disse...

Cada um é como cada qual. Na escrita como em tantos outros fatores.

Célia disse...

Bom, não tive "tempo" de ler tantas intervenções, todas elas devidamente argumentadas, pareceu-me. Mas entendi que parece que o José R. dos Santos precisa de silêncio para escrever e que a Carla precisa de vida ao seu redor para escrever. Espero que não julguem que a palavra dele é palavra de ordem, porque, como também já li aqui, cada um é como cada qual. Eu estou aqui na cozinha a escrever um novo capítulo enquanto a minha avó faz o almoço e a minha irmã vai fazendo interrupções. Há partes de um livro - que se calhar exigem uma introspecção muito maior - que obrigam a esse silêncio. Há outras que até agradecem a concentração que nos imprimimos quando estamos rodeados de estímulos e querermos abstrair-nos.

Quanto ao José Rodrigues dos Santos, o reconhecimento no estrangeiro tem tornado impossível que uma pessoa abra a boca a respeito dele. Isto é, da minha parte, comecei por lê-lo ao segundo ou terceiro livro que lançou. Os temas interessavam-me sobremaneira, mesmo porque há um bom trabalho de investigação por trás. E é até esse ponto que o admiro - como jornalista e investigador. Porque como romancista, lamento mas não. A personagem principal é ... um expositor de teorias, um pinga-amor atabalhoado, uma tela onde o JRS imprime as informações a respeito do tema a abordar nesse livro. Há sempre páginas e páginas e páginas de despejo de informações, porque no fundo é isso o propósito máximo dos livros dele; trazer um assunto para a baila, e não escrever um romance. O facto de se ser jornalista não transforma ninguém num romancista, são duas coisas muito distintas. E ele já não me agarra, porque o Tomás já era sempre a mesma coisa e as histórias não me entretinham; eu não as buscava para ser informada, mas sim para me entreter. A Fórmula de Deus é muito bom,o Códex 632 é massudo, como romance deveria ter sido desbastado, é amplamente acusado de falta de ritmo, o Sétimo Selo também é muito bom em termos informativos, mas não é um livro inesquecível - nem me recordo ao certo de onde se passa a acção, a Filha do Capitão tem pelo menos duzentas páginas que podiam ser rasadas sem prejuízo para a acção do livro, e idem, idem, idem.

Cristina Torrão disse...

Bom, com o dinheiro que ele ganha, tanto na sua profissão de jornalista, como na quantidade incrível de livros que vende (com todo o mérito; conseguiu, o mérito é dele), pergunto-me se esse bom trabalho de investigação que se encontra por trás dos seus romances será feito por ele. É que eu, na sua situação, pagava a alguém para o fazer e concentrava-me na escrita. E a frequência com que ele apresenta novos livros aponta para isso mesmo.

São disse...

Bem, eu vou tentar ter o máximo de cuidado com o que vou escrever, porque já vi que provoquei confusão que chegue e lamento que isso tenha acontecido.

Em primeiro lugar, quero dizer que estive a rever a parte do programa que deu origem a este post e provocou a minha reacção a quente, e verifiquei que o que ele diz é que NÃO CONHECE nenhum escritor que consiga escrever sem ser nessas condições (tendo referido o silêncio). Ora, ele não afirma que não possa existir. Ele diz que não conhece. É possível que não conheça. Quem somos nós para afirmar que ele conhece? :) Ele falou por ele, ao fim e ao cabo, dizendo que não conhece.

Em relação ao que diz a Cristina Torrão, é impossível não nos questionarmos sobre isso e, a termos coragem, não o questionarmos a ele. Eu já o vi várias vezes ser questionado em entrevistas e eu própria já o questionei via email. Ele não vacila e responde sempre que é ele próprio que faz as pesquisas sozinho porque não acredita em outro método. Se eu acredito? Sei lá? Nem acredito nem deixo de acreditar. Se ele o afirma e volta a afirmar a pés juntos, não vale a pena estarmos com mais especulações. A teoria/explicação dele (referindo, porém, que não tem nada contra quem o faz e que isso não tem mal nenhum) é a seguinte: se ele pedir a alguém para lhe pesquisar sobre um determinado assunto, a pessoa vai (obviamente) investigar só e somente sobre aquele assunto e não recolherá informação sobre outro que acidentalmente encontre e que eventualmente também lhe possa interessar. Obviamente, pois não faz ideia do que também lhe pode interessar além daquele assunto que lhe foi pedido. Eu, por acaso, sem querer dizer que acredito ou não, compreendo perfeitamente essa teoria, porque me recordo dos meus tempos da estudante universitária e lembro-me que no início do semestre ou do ano, os professores pediam trabalhos e acontecia-me muitas vezes estar na biblioteca a pesquisar, por exemplo para um trabalho de História da Cultura Portuguesa e, de repente, sem estar à espera encontrar algo que não me fazia falta mas que eu percebia que me ia ser útil, por exemplo, para o trabalho de Literatura Portuguesa, que ainda que não fosse o que tinha o prazo mais curto, também teria de ser feito. E nesse caso, ficava com a informação, porque sabia que ia precisar dela. Tinha muitos colegas que diziam que não faziam isso, que quando fossem pesquisar para o outro trabalho, logo se preocupavam com isso. Mas para quê se a informação estava já ali e não custava nada tirar já uma fotocópia? Métodos diferentes... Eu achava que poupava imenso tempo e trabalho desta forma.
Foi desta forma que comecei a perceber o que ele depois veio a confirmar directamente: o José Rodrigues dos Santos nunca tem apenas um único livros "na forja"... Não é daquele tipo de escritor que se debruça só e somente sobre um romance e só depois de o lançar começa a pensar e a trabalhar noutro. Por exemplo, este que lançou agora já estava a ser preparado há coisa de 10 anos... E vai trabalhando nuns e noutros, obviamente com um que é mais urgente, mas pelo que sei, já lhe tem acontecido acabar por terminar um antes daquele que esperava terminar primeiro.

Que isso lhe poupa (a ele e a qualquer pessoa que trabalhe assim) imenso tempo e trabalho não tenho dúvidas. Agora, se tem algumas ajudas, isso não sei. Se ele afirma que não e volta a afirmar, não lhe vou perguntar isso mais vez nenhuma.

Também diz que anda sempre com blocos de notas atrás porque a qualquer momento pode encontrar informação que lhe interesse.

Em relação ao comentário da Célia, não tenho nada a dizer. São opiniões :) . Eu gosto muito dos romances dele. Acho que cumprem o propósito. Mas , e citando o título deste post, cada um é como cada qual. As opiniões respeitam-se , devem ser respeitadas e as pessoas são diferentes e gostam de coisas diferentes. É normal :)

Cristina Torrão disse...

São, não pretendo, de maneira nenhuma, desmentir o que JRS diz. Se ele diz que pesquisa pessoalmente, eu também acredito. Já li dois livros dele, mas nada sei sobre a sua atividade de escritor, nunca contactei com ele, nem nunca procurei informações. Limitei-me a fazer uma suposição, devido ao ritmo a que ele publica. Mas é bem possível que ele tenha um método especial. É de facto enganoso pensarmos que os escritores escrevem os livros pela ordem que publicam.

Mas continuo na minha: tivesse eu o dinheiro dele, delegava as pesquisas (ou grande parte delas) noutra(s) pessoa(s) ;-)

São disse...

Mas eu também não disse que pretendias, Cristina :) . Pelo contrário. Acho super natural que nos interroguemos sobre isso, tanto que disse que já o vi ser questionado várias vezes sobre isso e eu própria já o questionei. Só acho que as ideias dele são muito próximas das minhas daí eu achar que têm lógica as justificações que ele dá.

Pronto, eu já não penso assim :) . As pessoas são diferentes, é engraçado. Acho que isso é que dá beleza ao mundo. Eu por muito dinheiro que tivesse, desde que tivesse tempo e saúde jamais delegaria pesquisas. E porquê? Porque acho que são coisas que só ficam à minha vontade e se conseguem utilizar bem se tiver sido eu a fazê-las. E volto a dar o exemplo dos meus tempos de estudante: na minha universidade não era obrigatório assistir às aulas teóricas. O que era obrigatório (claro lol) era saber a matéria. Ora, eu tinha colegas que raramente lá iam. Depois tiravam fotocópias dos cadernos dos outros e estudavam assim (havia quem não gostasse de emprestar, mas depois havia trocas de favores, uns iam a umas outros iam a outras e assim se fazia a coisa). Eu, pelo contrário, só faltava em caso de força maior. E quando isso acontecia acabava por ter o dobro do trabalho...lol... Era muito difícil para mim perceber os cadernos dos colegas, os apontamentos que tiravam... Levava horas a decifrar certas coisas... Fartava-me de dar voltas à cabeça... Quando era eu que os fazia era diferente. Em trabalhos de grupo em que cada um pesquisava uma parte era a mesma coisa: então e interpretar as pesquisas dos colegas? Daí eu perceber a ideia do JRS... Agora, que me faz confusão como é que ele consegue ser jornalista, professor e escritor, além de ser marido e pai, claro que faz. É verdade que a actividade dele como jornalista não é nada daquilo que já foi. Não estou a falar de qualidade, mas de quantidade... Deixou de fazer reportagens... Não tem mais programa nenhum além do Telejornal em semanas alternadas... Mas mesmo assim...

Sim, isso da ordem de publicação dos livros é uma coisa que eu só há pouco tempo comecei a pensar. Tinha ideia de que um escritor se debruçava sobre um romance e, enquanto ele não estivesse acabadinho e prontinho não pensava noutro. Mas não é assim...

No caso concreto do JRS, ele disse o ano passado numa entrevista que já sabia o que ia publicar em 2013, 2014, 2015 e 2016... E tinha ideias até 2019... Ora, o que lhe for dando mais jeito é o que ele vai fazendo, segundo as oportunidades forem surgindo... Sem ele esperar vão aparecendo outras coisas que não estava à espera e ele vai guardando para outros, e assim vai... E muitos devem fazer o mesmo, de certeza :)

É que se forem outras pessoas a fazerem as pesquisas por nós isso de facto limita imenso... Não sei se me estou a fazer entender... Não é chamar computadores ou robots às pessoas, mas acaba por funcionar um bocado assim: o computador só faz exactamente aquilo que mandamos e não tem os horizontes abertos, porque não raciocina...

Óbvio que há sempre influências que recebemos, até mesmo indirectamente e que, cá está, aproveitam-se! Tal como se estivessemos a fazer pesquisas, mas para outras coisas. No caso do José Rodrigues dos Santos, ainda o ano passado, com "A Mão do Diabo" que foi sobre a crise eu pensei: "Isto não lhe deu trabalho nenhum, esta informação vem ter com ele todos os dias ás 8 da noite..." lol...

Pelo que eu percebo, ele quanto mais vai pesquisando, mais vai encontrando e acumulando e guardando para outros... A vida não lhe vai chegar, por muito que viva :)

São disse...

Agora estou com algum receio de que achem que eu comparei as pessoas que fazem investigação para alguém a computadores/robots. Não são. São pessoas que estão a fazer o seu trabalho. Um trabalho digno, para o qual são pagas. Eu só comparei naquele sentido de não poderem raciocinar com o cérebro da pessoa que lhe encomendou a pesquisa.

Acontece a mesma coisa se eu for às compras e uma vizinha me disser "Olha, para eu não ir agora de propósito à vila, traz-me meia-dúzia de ovos e um quilo de açúcar..." E eu, vou na intenção de comprar para mim 1 frango, 2 quilos de batatas e um quilo de arroz... Só que chego lá e vejo que nesse dia as costeletas até estão em promoção e que curiosamente vem no dia seguinte um familiar almoçar a minha casa que gosta muito de costeletas. Então compro, para mim. Mas não vou comprar para a minha vizinha porque não faço ideia se ela quer ou não. Para ela, trago aquilo que me encomendou e mais nada.

Nas pesquisas acaba por acontecer a mesma coisa.

Ah, é verdade... Ainda que eu não tenha nada contra, porque, claro, cada um é como cada qual e há métodos diferentes, além de que a vida era deles e eles faziam dela o que queriam, posso referir que não me recordo (atenção que até podia haver, mas que eu conhecesse, não) de nenhum colega desses que estudavam pelos apontamentos dos outros, sem ir às aulas, que tivesse notas altas... Eram estudantes de 10, 11... Podiam ir ao 12, mas daí não passavam... Agora, que se calhar havia pessoas que conseguiam, é possível. Não vou dizer que não :)

Ana Luiz disse...

Olá Carla.
Gostei bastante do seu post. Achei engraçado ler sobre os seus "métodos" de escrita. Um café e um escritor(a) é uma imagem natural para mim. Mas este meu imaginário julgo ser herança do que leio nos livros ou vejo nos filmes. O escritor no café era para mim, ou algo de ficção, ou então algo do passado, dos grandes escritores do antigamente, para quem o café era quase uma segunda casa. Não imaginava que hoje em dia houvesse quem o conseguisse de facto fazer no meio da algazarra do nosso dia-a-dia. Acho isso simplesmente impressionante, já que eu nunca o conseguiria fazer. Continue o bom trabalho, quem sabe, "a beber" a inspiração directamente da algazarra? :)
Cumprimentos.