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domingo, 8 de setembro de 2013

A Gaiola Dourada

Assistiu-se finalmente por cá a A Gaiola Dourada, que queria muito ter a oportunidade de ver, mas me parecia que me ia escapar. Um pouco prejudicado pela minha actual surdez, mas enfim, valeram-me as legendas.

Trata-se da história de uma família padrão de portugueses em França, mãe porteira, pai mestre de obras, filhos nascidos e criados já em solo francês, que de repente recebem como herança uma casa e uma propriedade lucrativa em Portugal, tendo como condição habitarem-na e cuidarem do negócio. O pai, cujo sonho foi sempre regressar e ter aquela casa, pertencente à família, quer aceitar, a mãe duvida, os filhos não têm vontade de sair de França, mas incentivam os pais a regressar. A premissa é simples, e não precisa de mais nada, porque o filme se constrói do retrato desta família portuguesa (de todas as famílias emigrantes), dos que os rodeiam, a maioria lusos, do seu modo de vida, e de uma dúvida imensa: onde está o coração, nas raízes, ou no lugar onde se construiu uma vida?

O filme é bem humorado e doce e, talvez por ter sido pensado e realizado por um luso-descendente, derrama sobre os portugueses em França uma luz muito favorável, de simplicidade, alegria, coração, honestidade e muito trabalho. Sente-se a saudade da pátria, de que padecem sempre os que partem, mas também o amor pelo lugar que os recebeu. Rimo-nos muito, porque as situações e as caricaturas são genuinamente hilariantes, sem idiotice. Refiro apenas uma noite num hotel de luxo, em que, perante uma refeição gourmet servida no quarto, Maria saca do seu tupperware e da cerveja, para servir ao marido, pouco adepto de "comer fora", a refeição caseira. Aparece sem ruído, quase como um pormenor natural, porque eles vão conversando e a conversa nos distrai, e é isso que arranca a cena à estupidez e a faz tão boa.

Apesar do humor constante, há um fundo de integridade no filme e nas personagens interpretadas por Rita Blanco (está tão bem!) e Joaquim de Almeida, os pais, e os seus filhos em luta com a sua própria posição intermédia, que nos leva a sentir as suas dúvidas e a sua tristeza, quando ela surge, a emocionarmo-nos e a ter, em certos momentos, uma lágrima de ternura no canto do olho.

Já imaginava que fosse gostar do filme. Não imaginava que gostasse tanto. É imperdível.   

5 comentários:

Ivonne Zuzarte disse...

Às vezes tenho vergonha do preconceito que criamos face ao que é português. Contra mim falo, sobretudo, contra mim, sim.

Tanta gente disse que adorou que vou tentar ver o filme, infelizmente pela forma menos... tradicional, talvez.

As melhoras da contínua - espero que por pouco tempo - surdez.

Encruzilhadas Literárias disse...

O filme é muito bom, adorei. Há muito tempo que não me passeava pelas salas de cinema e fiquei muito contente por ter ido. E porque mesmo em francês me falou tanto em português, chego ao ponto de gostar mais dele que outros granes filmes internacionais. Vale mesmo a pena. Terás de voltar a ver depois com "som" porque a banda sonora na qual se contemplam músicas do Rodrigo Leão ou aquele fado final merecem ser realmente escutados.

Anónimo disse...

Também adorei o filme, 5*.
Retrata muito bem o povo português lá fora.

teresa dias disse...

Já vi, gostei e soltei umas boas gargalhadas.
Aquelas personagens somos mesmo nós, ponto. Não há que ter vergonha.
A propósito do filme, lê a crónica de Miguel Esteves Cardoso,publicada no Público de ontem, dia 8/9, e verás o que é o verdadeiro "bota abaixo" português.
Um horror.

Cristina Torrão disse...

Também estou curiosa quanto a este filme, até por causa da minha própria condição de emigrante, com essa dúvida: onde é a minha casa? Claro que sou e serei sempre portuguesa, mas, depois de 21 anos na Alemanha, sinto-me, por vezes, um pouco desenraizada, quando estou aí.

O filme também anda nos cinemas alemães com o título: "Portugal, mon amour"!!!

Surdez? Ó Carla, desejo-te as melhoras!