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terça-feira, 30 de julho de 2013

E se querias tudo diferente?

Dar um livro por encerrado e oferecê-lo ao mundo é difícil. 

Aconteceu-me pela primeira vez com o Alma, e agora, mais de um ano depois da publicação, quando me encontro a acabar a primeira revisão de um livro (não é a primeira primeira, mas é a primeira antes de ser lido por "desconhecidos" para beta), e estou prestes a entrar na revisão de outro, este para a PE, em princípio, sinto mais do que nunca essa dificuldade. 

Nunca mais li o Alma. Não sou capaz, porque cada vez que lhe pego e leio meia dúzia de linhas, cada vez que penso na intriga e na forma como o escrevi, encontro coisas que alterava sem hesitação. Não sei se ficaria melhor, ou pior, mas ficaria decerto diferente. Dei por mim a pensar mais nísso depois da opinião de ontem, que é justíssima (http://darktalesblog.wordpress.com/2013/07/29/alma-rebelde-carla-m-sores-opiniao/), embora também sejam justas todas as outras, boas e más, porque todos lemos de forma diferente e reagimos de forma própria a cada livro. 

Dou-me uma certa margem, foi o primeiro de sempre para mim, dentro do género. O plano inicial levou várias reviravoltas, e até lhe retirou uma certa vertente trágica que tinha de início. Não foi escrito para ser imprevisível ou surpreendente, mas porque nunca tinha experimentado o género antes e queria saber se era capaz. Fui, de forma imperfeita, mas pelos vistos suficientemente bem para a Porto Editora gostar dele. Ainda assim, provavelmente não voltarei a lê-lo, faz-me comichão nas pontas dos dedos. 

O problema é o futuro, porque me custa encerrar o(s) livro(s)... Vou ter que dá-los por concluídos num momento qualquer, mas agora já conheço a sensação de querer mexer-lhes mais e não poder Ainda nem acabei, e já me pergunto: serei capaz de reler algum destes livros sem desesperar, se os vir publicados e mais ou menos imutáveis? 

Coragem menina, coragem. 

2 comentários:

Olinda Gil disse...

Já fiz isso com alguns contos. Sei que o irei fazer com romances. Temos de lhe saber dar um ponto final.

Cristina Torrão disse...

Nada impede que faças modificações ao Alma. Se não queres perder o texto que foi publicado, podes copiá-lo para um novo e dar-lhe outro nome (Alma II, por exemplo). Quem sabe se, algum dia, não haverá uma reedição "revista e melhorada", como se costuma dizer?
Li, algures, que a versão de "O Crime do Padre Amaro" que hoje conhecemos não foi a primeira que o Eça publicou. Cerca de dez anos depois da primeira publicação, ele editou nova versão com muitas modificações, principalmente, nas últimas páginas (parece que o fim inicial era bem diferente).