Páginas

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Esqueçamos os livros

por um minuto, e vamos deitar olhos à Turquia.
 
Nós, que somos de luta mansa e indecisa, mais intensa no remanso das nossas casas, onde não tem consequências, interrompida de quando em quando por uma manifestação mais ou menos ruidosa, que ainda esperamos de cravo na ponta, olhemos para a Turquia.
 
Não é o mesmo, claro. A nós mexem-nos no bolso, e ao mexer no bolso mexem na nossa vida como a conhecemos. Mexem nos direitos básicos de muitos, por via da pobreza, da falta de trabalho ou do seu excesso com muito menos retorno, de pior saúde, de uma educação cansada, desanimada, assoberbada. Continuamos livres de pensar, embora não esteja certa de sabermos fazê-lo, e de sermos mais ou menos quem quisermos, como quisermos, chegue o nosso pé de meia para isso.


(imagem partilhada por Clotilde Fava no facebook, de hoje, na Turquia)
Na Turquia fia mais fino. Espreita a ameaça da intransigencia religiosa, da ditadura do pensamento, de um regresso à mentalidade do século X na europa. A ameaça da burka, quer ela fique ou não visível. Principalmente para as mulheres, que de europeias de ontem podem ver-se amanhã transformadas em terríveis infratoras da moral e dos bons costumes, merecedoras de um belo apedrejamento. Sabe-se lá até onde vai o retrocesso.
 
Respeito as religiões nos seus princípios básicos, o que não é mesmo que respeitar os homens (e incompreensivelmente também muitas mulheres) que as impoem e prolongam às custas de direitos essenciais, liberdade de pensamento, movimento, direitos sobre o próprio corpo e sobre as ideias, etc, que nós, mulheres, levamos séculos a conquistar. Afectarão todos. Por isso, admiro os turcos que se manifestam à semanas. Que hão de continuar a manifestar-se, de certeza, obrigando o mundo a olhar e estar atento, antes que seja tarde.
 
Para nós não servirá. Mas mantenho os olhos neles.

Sem comentários: