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domingo, 21 de abril de 2013

Um excerto


Lisboa, 1940
 
Lisboa mantivera-se até aí à sombra desse desespero, no limiar da guerra sem participar efectivamente nela, mas nunca suficientemente longe para a segurança. Por ora, transformara‑se num formigueiro de gente diferente, fugitivos à procura de uma segurança precária, de uma pausa no horror, de um caminho para outro lado qualquer. Gente com o medo de não haver amanhã bem enraizado na alma. Carmo, na sua rotina de jovem burguesinha, talvez não se tivesse apercebido, mas o medo ainda fresco e a alegria efeverscente de quem escapara por pouco da morte eram uma mistura explosiva, que impregnava a capital de uma pulsação intensa, com que Lisboa não estava familiarizada e a que não sabia reagir. Carmo era ingénua, facilmente se deixaria conduzir por ela, pelo desejo de viver no limite. Deus sabia como o afectava a ele.

A Chama ao Vento (em revisão)

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