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domingo, 10 de fevereiro de 2013

O fim da primeira revisão

de um texto é sempre um alívio. Isso mesmo, está feita uma primeira revisão d' O Cavalheiro Inglês.
 
Agora é altura de dá-lo a ler a algumas pessoas que podem aferir o interesse da história, as incongruências que um olho viciado não vê, e a acuidade da História - ainda que, vou insistir sempre, sempre e sempre, eu não tenha escrito romances históricos, mas de época. Incomoda-me a ideia de que se pegue no livro ao engano, pensando que se vai ler com terrível seriedade sobre um acontecimento histórico. Não, o meu interesse são as pessoas e as suas aventuras, é acaso que vivam noutra época. Ainda assim, tento enquadrar bem, e é importante para mim que haja alguma precisão nos factos e pormenores que incluo acerca das gentes da época, dos costumes, de algumas datas. Como não sou historiadora e o meu tempo para pesquisa é escasso, preciso de quem me confirme se não meti os pés pelas mãos em grande. Felizmente, tenho quem possa fazê-lo maravilhosamente.
 
O livro ficou, no vulgar Times New Roman, tamanho 12, espaço e meio, com 356 páginas A4. A leitura por outros e a minha releitura um dia destes poderá ditar mais ou menos páginas, conforme se verifique a necessidade de acrescentar ou cortar. Vou enviá-lo por email a duas ou três pessoas, e imprimir duas ou três cópias para o 'dar a ler' a quem sabe das coisas. E vou enviá-lo à PE, claro. Em ano de crise não deve estar nada interessada, mas aguardo.
 
E agora? Agora volto à revisão d'A Chama ao Vento, que abandonei quando me apeteceu escrever este. Precisa de uma boa esfrega na primeira parte.
 
Para terminar, um excerto ...ora deixa ver...vou ao find do word escrever um número de página qualquer para ver o que me sai... 167... não saiu nada, não dá, mas procuro à mão. Aqui está... humm. Olha. Errr, pronto, não me calhou o excerto mais interessante do livro, mas prometi a mim mesma que tirava um ao calhas... e foi este. Noutro dia procuro um mais animado.

Robert ouvia-a, e parecia muitas vezes concordar. Sofia desconfiava.
“O que achar?”, perguntava, ou “Não lhe parecer?”. 
Ela respondia timidamente, “Oh, não sei.”, “Não estou certa.” E ele insistia, e incentivava, até lhe responder “Parece-me que...” e “A minha opinião de nada vale, mas...”
Ser forçada a expressar a sua opinião a um estranho, sem provocação nem a fúria que as suas discussões com Tião lhe provocava, obrigava-a a descortinar por entre a amálgama de ideias que lhe chegavam do seu dia a dia, dos livros e informações dos períodicos, e de Amélia, quais as que formavam a teia da suas convicções. Era por vezes confuso saber onde estava a razão, quando se crescia com tantas razões diferentes. Mais difícil ainda saber quais a que lhe eram ditadas pela inteligência, pelo sentido de justiça, e quais as que lhe vinham do coração. Nem sempre era capaz de separá-las. Queria saber mais, estar presente no mundo. A ideia não lhe saía da cabeça desde a conversa com Angelina e as estudantes.
Certa tarde em que Tião se mostrava mais distraído do que o habitual, Sofia reuniu a coragem para perguntar finalmente:
- Senhor Clarke, o que acha dos direitos das mulheres?
- O que eu achar?
- Sim. Conheci no outro dia uma portuguesa amiga da Amelinha, Angelina Vidal, talvez já tenha ouvido falar. - Robert negou, e Sofia achou que talvez fosse preferível, afinal a mulher dizia horrores dos ingleses - Ela não gosta muito dos britânicos, mas... enfim, o que queria dizer é que ela defende igualdade de direitos entre homens e mulheres. O que acha?
-  Em Inglaterra muitos mulheres pedir igualdade. E homens também. Eu ter lido Stuart Mill, ter uma livro sobre igualdade das direitos, ser muito interessante.
- Sim, mas... o senhor tem-me feito muitas perguntas,  desta vez perguntei-lhe a si.
Ele pensou um pouco. Sofia susteve a respiração. Se lhe dissesse que as mulheres eram belas demais, ou preciosas demais para e desgastarem a trabalhar, ou qualquer uma dessas afirmações masculinas totalmente desconhecedoras do que era ser mulher, algo se quebraria ali em definitivo. A sua esperança.
- Eu ter sempre acreditado que todos nascer iguais. Quer dizer, que dever ter mesmos oportunidades. Alguns nascer mais espertas que outros, mas isso tempo provar. 
- Então o senhor Clarke também é um socialista?
- Oh, no, not at all! Nascer igual nas direitos não ser viver igual ou morrer igual. Eu achar que todos ter direito a ter educação e procurar trabalho. The rest... O resto estar aqui - bateu com dois dedos na testa - Em mulheres também.
- Pois aí está. A contrário do senhor meu pai, eu sou sou da convicção de que as mulheres também devem estudar aquilo que lhes aprouver... leis, por exemplo, ou medicina. E devem trabalhar, se o desejarem, mesmo que sejam casadas. - olhou de esguelha para Robert, que sorriu - Não falo das desgraçadas que trabalham no campo, ou nas fábricas. Qualquer mulher.
- Trabalhar ser bom. Em Londres termos alguns médicas, an architect.. desenhar casas, sim? Muito bonitas. E um mulher de leis.
- Sim, é isso. Devem trabalhar, nem que seja com os maridos. - aprovou, esperando que ele apanhasse a intenção - Ou estudar... estudar também deviam fazer.
O Cavalheiro Inglês, pág 167

4 comentários:

Guiomar Ricardo disse...

Hum!Interessante,fiquei curiosa.Espero ler em breve a continuação,pois esta época aqui descrita é,deveras,apaixonante com o início do Feminismo.

Clarinda disse...

Também me despertou a atenção! Aguardemos pacientemente.

Marg disse...

Hum! Já me deixou "em pulgas"...
Aliás, desde o "Alma Rebelde" (e também por causa de alguns textos seus que vou lendo por aqui) que espero ansiosa outra "estória" da Carla Soares! :)
Gosto muito de romances "de época" e gosto mesmo muito da forma como escreve!
Mas vou ter de esperar... :(

Ana C. Nunes disse...

Adorei o inglês a falar português. :)
O excerto é interessante e dá um sentido da época e da mentalidade. Boa sorte com as revisões deste e do outro romance. Espero que apesar da crise, a PE te publique o livro.