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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O Filho de Mil Homens - Valter Hugo Mãe

Opinião:
Comprei este livro por impulso numa ida ao supermercado, porque lhe peguei e comecei a ler. Desta vez vai ser muito difícil escrever uma opinião, eu que costumo escrevê-las com vários metros, ando desinspirada, e livros assim tão bons fazem-me perguntar se devo continuar a escrever. (claro que vou continuar, não saberia fazer de outra forma)
 
É um livro maravilhoso, que me prendeu em primeiro lugar pela escrita, de um estilo muito particular, muito poético mesmo quando é crú, que não sei se agradará a todos. Depois interessei-me pelas personagens. Há uma certa estranheza nelas e suas suas situações, daquela estranheza poética de Portugal profundo, por vezes de uma grande crueldade, mas sem dúvida e sempre com muita humanidade. É um livro cheio de esperança mesmo quando é amargo ou duro, capaz de arrancar um sorriso com personalidades que são irreais e extremamente reais. É uma contradição, mas é assim que as vejo. Os temas são comuns ao Homem, amizade, amor, esperança, paternidade e maternidade, escolha, preconceito, morte e vida...
 
Não me apetece, desta vez, falar sobre o livro. Prefiro que o livro fale por si.
 
No início:
Um homem chegou aos quarenta anos e assumiu a tristeza de não ter um filho. Chamava-se Crisóstomo. Estava sozinho, os seus amores haviam falhado e sentia que tudo lhe faltava pela metade, como se tivesse apenas metade dos olhos, metade do peito e metade das pernas, metade da casa e dos talheres, metade dos dias, metade das palavras para se explicar às pessoas.
Via-se metad ao espelho e achava tudo demasiado breve, precipitado, como se as coisas lhe fugissem, a esconderem-se para evitar a sua companhia. Via-se metade ao espelho porque se via sem mais ninguém, carregado de ausências e silêncios como os precípicos e poços fundos. Para dentro do homem era um sem fim, e pouco ou nada do que continha lhe servia de felicidade. Para dentro do homem o homem caía.
 
E mais para o fim:
O Crisóstomo disse ao Camilo: todos nascemos filhos de mil pais e de mais mil mães, e a solidão é sobretudo a incapacidade de ver qualquer pessoa como nos pertencendo, para que nos pertença de verdade e se gere um cuidado mútuo. Como se os nossos mil pais e mais as nossas mil mães coincidissem em parte, como se fôssemos por aí irmãos, irmãos uns dos outros. Somos o resulatdo de tanta gente, de tanta htória, tão grandes sonhos que vão passando de pessoa a pessoa, que nunca estaremos sós. (pag.237)
 
Sinopse:
Esta é a história de Crisóstomo que, chegando aos quarenta anos, lida com a tristeza de não ter tido um filho. Do sonho de encontrar uma criança que o prolongue e de outros inesperados encontros, nasce uma família inventada, mas tão pura e fundamental como qualquer outra.
As histórias do Crisóstomo e do Camilo, da Isaura do Antonino e da Matilde mostram que para se ser feliz é preciso aceitar ser o que se pode, nunca deixando contudo de acreditar que é possível estar e ser sempre melhor. As suas vidas ilustram igualmente que o amor, sendo uma pacificação com a nossa natureza, tem o poder de a transformar.
Tocando em temas tão basilares à vida humana como o amor, a paternidade e a família, O filho de mil homens exibe, como sempre, a apurada sensibilidade e o esplendor criativo de Valter Hugo Mãe.
 
 

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