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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Nem sempre gosto das personagens que crio

  
Não falo daquele conjunto de personagens que existem para ser de alguma forma desprezíveis, e que assumem esse papel na narrativa com gosto e descaramento. D.Miguel, por exemplo, no Alma Rebelde, ou o General Yong, n'A Grande Mão, e outras que poucos conhecem porque poucos leram essas histórias, cumprem papéis pouco simpáticos na história porque é assim que é preciso. Será assim com uma ou duas n'O Cavalheiro Inglês, se o Cavalheiro um dia vir a luz do dia.
 
Há outras personagens que às vezes nos surpreendem, porque lhes damos destaque de protagonista e elas acabam por ganhar uma personalidade própria que nem em mim reúne consenso. Falo nisto porque estou a ler o Bloodfever, cuja personagem Barrons parece agradar à senhoras, mas a mim, por enquanto, me deixa com os cabelos em pé com tanta misoginia e prepotência. Desconfio que a continuação da leitura vai fazer-me mudar de ideias. É isso, ou, minhas senhoras, perdemos a cabeça! Ora aqui está um protagonista que, por ora, não é eleito por unanimidade.
 
Mas estou também a rever, muito devagarinho, o A Chama ao Vento. O protagonista, um homem, tem os seus motivos para ser como é, mas não é um homem simpático. É frio e distante, pouco predisposto a delicadezas ou generosidades. Não gosto dele a maior parte do livro. Mas ao mesmo tempo gosto, porque fui eu que o criei, compreendo-o, sei de onde vem e porquê. Acontece-me o mesmo com a Joana, do Alma. Gosto dela, não gosto dela, gosto dela, não gosto dela. Mas também a compreendo.
 
É assim um bocado como com os filhos, suponho eu, quando crescem e adquirem a sua própria personalidade. Podemos não gostar deles, não aprovar aquilo em que se tornaram, mas amamo-los de qualquer forma, e muito, com defeitos e tudo. São nossos. Veremos os meus quando crescerem, porque as personagens... essas já me fugiram das mãos.
 

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