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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Sunshine - Robin McKinley

Sinopse:

There hadn't been any trouble out at the lake for years, and Sunshine just needed a spot where she could be alone with her thoughts.
Vampires never entered her mind. Until they found her.



Opinião:

Estamos perante um livro que cria um universo fantástico estranho e muito interessante, inteiramente a partir do ponto de vista da personagem principal narradora cujo nome dá título ao livro. Opera aqui o que distingue o fantástico da fantasia: o enraizameno na realidade, na qual se abrem brechas a partir das quais o fantástico é visível ou interfere no mundano. É o que sucede aqui: somos imersos numa boa dose de realidade - a narradora é pasteleira e as suas rotinas são, de inícios, as de uma qualquer pasteleira, ela própria e quem a rodeia pessoas muito comuns, na aparência. A perspectiva desta personagem que determina o tom da história, o seu ritmo e também o ritmo da nossa exposição a uma realidade alternativa aterradora.
Tenho aqui referido que, se a leitura não é intensiva e por períodos prolongados, não aprecio da mesma forma o livro. Tenho dificuldade em concentrar-me na história e em ligar-me às personagens. Tem-me sucedido com frequência ultimamente, e este livro não foi excepção. Não se trata, para mais, de um livro equilibrado. Pelo contrário, o livro flui - ou não flui - tanto ao sabor dos acontecimentos como dos processos mentais da narradora e das suas reações ao choque entre realidade e fantástico - o nosso fantástico, uma realidade em geral aterradora para ela - e ao seu desejo de fugir, e ao mesmo tempo de enfrentar, a presença da magia e a ameaça do obscuro na sua vida. A reflexão acompanha sempre a ação, nem sempre de forma lógica, como, em momentos de confusão, nos falha a lógica também. O ritmo é quebrado, inconstante, cimentado nas rotinas que tenta cumprir, os acontecimentos não são sempre claros, os sentimentos da personagem também não, tem hesitações que nos acontecem a nós também. As nossas, porém, são comezinhas. As de Sunshine prendem-se com a luta do bem contra o mal, ou seja, da luz (sunshine) contra a escuridão, na figura de um vampiro.
Mas a linearidade termina aqui, porque nem todos os 'monstros', obscuros na sua natureza, são os inimigos. Ou, sendo por natureza os inimigos, são aliados também. E outros não são, num mundo cheio de monstros com diferentes graus de aceitação - sendo que os mais obscuros e verdadeira ameaça são os vampiros. E nem todos os monstros vivem fora de nós. Sunshine luta contra e a cisão da sua personalidade, patentes na frase que muitas vezes repete: o eu-humana, o eu-árvore, o eu-corça, não deveiam ser mais fortes do que o eu-escuridão? A magia tão pouco é benvinda - e no entanto não é obrigatoriamente malévola. E é necessária. Os humanos são - e Sunshine também - como são os humanos, cheios de defeitos.
Há riqueza de pormenores no que diz respeito à magia (como acontece, por exemplo, com os objectos encantados, os 'guardas' e 'proteções', com a variedade de seres referida, demónios e shifters e outros) e a fusão entre real e fantástico está muitíssimo bem feita. E o tom do discurso, honesto, irónico, sarcástico, autodepreciativo, introduz muitas vez um sorriso onde não esperariamos, e maior leveza  num livro que é complexo e em momentos repetitivo - obsessivo como nós somos obsessivos nos nossos terrores.
  

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