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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Skyfall

Finalmente fui ao cinema!! Andava a desejar fazê-lo há semanas, tanto que me apanhei sozinha na sala na segunda feira à tarde, parei no canal Hollywood e vi, de uma assentada, tudo o que por lá deu - e com isso vi um filme desses de gastar caixas de lenços, A Walk to Remember (parece que a história é do Sparks, mas nunca li e nada dela e não sabia quando vi). O filme calhou bem, era mesmo o que me apetecia.
 
Mas ontem fui finalmente ao cinema, para ver o que (para mim é) imperdível, mais um James Bond. Não terá o mesmo significado para a juventude, mas para quem está na casa dos 40 ou mais, um James Bond é uma coisa a assistir.
 
Falemos então sobre o filme, que é isso que importa.
 
James Bond tem vindo, de há um tempo para cá, a mudar. O novo Bond, Daniel Craig, veio com outra forma de representar o herói, que acompanha uma perspectiva mais dura, mais discreta e mais realista de encarar a ação. Menos gadgets, menos impossibilidades, intrigas menos irrealistas, inimigos menos estranhos, menos mulheres provocadoras... veja-se que Bond até já se apaixonou, o que não acontecia desde os tempos distantíssimos em que a mulher foi morta à porta da igreja, ou coisa que o valha. Principalmente, tem muito menos canastrice do que a que já assombrou a série (parece que era assim de propósito, segundo me disseram, mas não confirmei). Craig é um actor, Dame Judy Dench um portento, e desta vez ainda trouxeram Javier Bardem como vilão, e que vilão, e Abert Finney numa pequena mas sólida participação. 
 
Este James Bond não foge da tradição movimento rápido, perseguições frenéticas, ambientes luxuosos, um fato impecável, um martini shaken, not stirred, veículos, um pouco de sexo e uma apresentação Bond, James Bond, que são há muitos anos marca registada da série. Desta vez foram, todavia, integrados com todo o cuidado e deliberação.
 
Isto porque este Bond é uma celebração dos 50 anos dos filmes, e é, em todos os sentidos ou quase, um regresso ao passado. É um Bond mais velho, a agir depressa, mas obrigado a olhar para dentro. Para dentro do seu país (é o primeiro Bond em que a acção é essencialmente em Inglaterra, embora comece na Turquia e passe por Xangai e por Macau), para dentro de si próprio , enquanto filme, e dos seus mecanismos e clichés, e para dentro das personagens. Estas vêm-se a braços com os fantasmas do passado e, sim, pela primeira vez 'conhecemos' Bond, conhecemos-lhe a origem e o que, de certa forma, o fez quem é. How exciting, hum? As emoções são fortes,  mas nunca se fala delas. Mal se vêm, suspeita-se que estão lá. Afinal, ainda é Bond, só que este Bond já não é um boneco de plástico desprendido. Craig, e principalmente Judi Dench, são magníficos no exercício de deixar antever a tempestade sob a superfície inquebrável de um rosto duro e inflexível, tentado por tantos actores sem sucesso. Se já não fosse fã desta senhora, sê-lo-ia agora. Uma palavra para Javier Bardem, que se arrisca a colar a personagem de vilão tresloucado, tão bem a representa.
 
O fim completa a valente piscadela de olhos ao Bond tradicional, e a série comes full circle. M., Moneypenny e o velho escritório surgem em todo o seu esplendor. Já antes o antigo automóvel fizera a sua aparição, e no início regressara-se à simplicidade de uma arma e um rádio. Adeus gagdets Roger Moore. Isto é Sean Connery, graças a deus, com um Craig escocês e a Escócia e tudo e tudo. Inquebrável, sarcástico, mas reservado. Os mais velhos (do que eu, até) vão lembrar-se.
 
Não quero revelar nem pitada do filme. Por isso, digo apenas que pouco me importa se mais ninguém vir neste filme o que eu vi, ou se vier por aí a crítica declarar o falhanço. Ou que declare que isto não é Bond. A lingua de fora para eles. Não houve absolutamente nada de que não gostasse neste Bond. Não tinha um favorito. Agora já tenho.
 
Uma palavrinha para as meninas, porque preciso que me expliquem como é que um homem feio - porque Craig não tem nada de bonito a não ser os olhos e, bem... o que está por baixo da camisa - é tão tremendamente sedutor?

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