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domingo, 21 de outubro de 2012

Conversa deliciosa

nos idos de 1500, em O Fio do Tempo. Entre o avô, navegador e soldado nobre da Casa de D. Henrique, e o neto de oito anos.


- Porque é que os negros são nossos escravos?
A pergunta surpreendeu o avô.
- Sempre houve escravos entre as pessoas. Já os romanos os tinham, e os mouros também. Como sabes, também temos escravos que foram capturados na guerra de África, e que são de pele branca.
- Mas na terra da Erika não há escravos.
- Pois não, mas a nossa lei permite tê-los.
- Não gostava de ser escravo.
- Nasceste para ser livre, meu filho.
- E o Tobias? Nasceu para ser escravo?
- Não por força, mas a fortuna foi-lhe adversa. (...)
- Como fizeste, então, do Tobias um escravo?
- Comprámo-lo ao seu caçador a troco de cavalos, panos e bugugangas. Era uma prisioneiro condenado à morte.
- Fez alguma maldade?
- Não. Simplesmente a sua gente é inimiga da que nos vende os cativos.
- Mas o Tobias é um homem bom. Devíamos ajudar a sua gente a defender-se dos que os atacam e que os vendem.
(pág. 173-4)

E aqui o avô, que tantas vezes vigiou o comércio dos escravos, desviou o assunto.  

1 comentário:

Ivonne Zuzarte disse...

Não sei porquê mas este texto fez-me recordar um conto de Sophia de Mello Breyner Andresen, creio que "Um Conto de Natal". :D