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domingo, 2 de setembro de 2012

Inverso - L.C. Lavado

Sinopse
Numa pequena vila costeira do norte do país, um acidente do destino faz com que dois mundos se toquem. 
Ivana, uma adolescente sonhadora com cabelos cor de fogo, está prestes a viver o seu amor de infância com Bernardo, quando uma figura de negro envolta em mistério entra na sua vida trazendo consigo a magia e pondo tudo em causa.
Gabriel é a figura de negro, e o seu amor por Ivana vai reacender uma guerra ideológica no seio de uma sociedade nómada que desde o século XVII tem vindo a evoluir à margem do resto do mundo: os Hekat.
A sua história será rodeada por um conjunto de personagens muito singulares, algumas coloridas outras sombrias, mas todas complexas, procurando influenciar os dias e as noites numa luta pelo desfecho final em que acreditam.
Opinião
Comprei este livro em ebook na Amazon e li-o no kindle. Tem opiniões bastante favoráveis no GoodReads, uma capa muito gira e é de uma autora com um blogue interessante. Achei realmente que ia gostar, e é mais uma vez com muita pena que digo que não fiquei entusiasmada.
 
O livro está dividido em três partes, com citações de peso (Goethe, Darwin) no início de cada uma, o que de início até me assustou, porque procurava uma leitura simples e achei que ia ser um texto denso. Pois. Neste momento estou convencida que sou da faixa etária errada para ler o livro. Dirige-se a jovens que sonham com o amor assolapado e à primeira vista. Também já fui uma.
 
Comecei animada, mas o enredo inicial, a estrutura e linguagem são de facto de amores adolescentes. Não desgosto das personagens, embora estejam na generalidade pouco desenvolvidas. A Ivana e o Gabriel têm potencial, mas sobretudo ela acaba por ficar sufocada pelas voltas e reviravoltas desses amores e alcovitices teen. Achei que os jovens se relacionavam (e falavam) dentro de um padrão que me fez lembrar uma certa série televisiva... acaba por ser superficial e saber a pouco, e domina a primeira parte do livro. 
 
Há um pressuposto interessante, um grupo de ciganos de onde surge o tal herói, Gabriel, mas até cerca de 25% sabemos muito pouco sobre eles. Gostava de os ter visto a interagir com a comunidade regular, para estabelecer uma diferença com o que a Ivana descobre depois. Ou de os notar mais misteriosos, logo de início, a deixar suspeitas de que algo viria dali. Gabriel aparece como uma criatura misteriosa, numa situação confusa. A forma  como Ivana aceita a magia e se atira a esta relação, sem medo nenhum, deixou-me com pele de galinha. Não teve medo dos poderes dele, da sua presença nocturna, nem sequer quando achou que ele era um morto! Nesta primeira parte, menos interacção juvenil  (quem gosta de quem e que esquemas de conquista usar e idas à praia e recreios na escola), mais mistério, mais receio da parte dela perante as novidades, mais dúvidas com o futuro, já que estão no fim do secundário, dariam outra profundidade à história, mesmo sendo teen. E também me pareceu que Gabriel cedia com muita facilidade os seus segredos, guardados à gerações, sobretudo à amiga da jovem, uma personagem curiosa que gostava de ter visto mais, eheheh. Certa parte lembra-me um outro romance fantástico entre adolescentes que por aí andou a fazer muito sucesso, quando o herói entra no quarto da rapariga todas as noites e fica a vê-la dormir.
 
Confesso que mais ou menos por aí pensei em desistir, mas com quase 75% por vir, alguma coisa teria que acontecer, até porque já se tinha introduzido a sociedade Hekat. Esta está na base do fantástico no livro, oculta-se sob a tal aparência 'cigana' e tem poderes. Não explico quais, nem a sua origem, porque é spoiler e retira o principal ponto de interesse do livro. Por isso, saltei para cerca de 60% e fui parar exactamente ao iníco da segunda parte. :)
 
Embora a narrativa se mantenha ainda pouco madura, abandonamos os adolescentes, passamos a ver o lado dos Hekats, e a história em si fica bem mais interessante. Há uma intriga por poder, um pouco insípida, porque o amor continua em primeiro lugar. E entra outro triângulo amoroso. Vêm-se aspectos curiosos sobre os Hekats. Tem potencial. Até a linguagem e os diálogos se melhoram, embora muitos deles continuem a soar um pouco artificiais. Infelizmente, o afastamento entre os protagonistas e o(s) triângulo(s) amoroso(s) continuaram a fazer-me lembrar a segunda parte dessa tal série ... crepuscular, com as devidas distâncias entre mortos e vivos, porque os poderes estão lá. Mas lê-se bem melhor.
 
Gostei da história dos pais de Gabriel, pareceu-me o aspecto mais maduro e realista, com a oposição entre culturas, realidades e expectativas. Teria gostado de ver mais do Lázaro, em vez de ouvir sobre ele. Também gostaria que a cena do confronto fosse mais dura e mais longa.
 
O aspecto fantástico é interessante, mas a aventura propriamente dita está subjugado pelo amor. É uma história de amor impossível, mas que só lá para o fim começa a parecer impossível, apesar dos obstáculos e desencontros. Isso não é novo, e pode ser interessante. O problema foi a falta de maturidade na narrativa e nos diálogos, na linguagem utilizada em geral,  que me fizeram associar o livro aos sonhos de amor de uma adolescência cor de rosa e não muito exigente. Há alguns erros de ortografia e faltam virgulas.
 
Devo acrescentar que a autora, que está na casa dos vintes, me revelou que este seu livro já tem algum tempo. Depois disso, terá já tido tempo para amadurecer alguns destes aspectos, porque sei que continuou a escrever.

2 comentários:

Célia disse...

Interessante que te interesses por toda a espécie de livros de portugueses que têm saído. Quando tiver tempo hei de dedicar uma oportunidade a este também :)

Carla M. Soares disse...

Não é bem isso, Célia.
Depois de aderir ao Goodreads apercebi-me de uma quantidade de gente nova a publicar. No caso da Liliana, como no da Andreia, li-os porque gosto de fantasia-fantástico e desejo sempre encontrar novos autores para gostar. O problema é que já li tanta coisa recente neste campo que ambos os livros me souberam a pouco e, como leitora, fiquei insatisfeita com a forma como estão escritos, o uso do português, os diálogos, etc, são um pouco colados aos dos adolescentes da TV portuguesa. É pena.